quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Oscar 2014 - 1º Parte





A temporada para o Oscar 2014 começou. Neste período, eu crescentemente fico alarmado com o poder por trás de toda a parafernália da indústria cinematográfica americana. Enfim, não que não haja qualidade em alguns dos filmes por lá selecionados, mas é preocupante quando observamos os cinemas do país inteiro empenhados por lançar a maioria dos títulos desta premiação antes da cerimônia televisionada, bem como constatamos uma autenticação massiva por parte da imprensa nacional de que lá está o melhor da sétima arte. Será?
Há tanto cinema mais importante e que não ganha a mesma atenção por nossas paragens. Cannes, Veneza e Berlim, por exemplo, são premiações/ festivais mais plurais, preocupadas com os novos rumos da imagem, da interculturalidade fílmica e de valorizar produções independentes, feitas no território das tentativas de condições possíveis, nem sempre ideais. Há, em outra instância, mas não muito diferente, a mesma valoração em nosso país, quando ocorrem os nossos grandes festivais de cinema? Creio que não.
Nós temos certo tipo de influência pelo poderio cultural do Oscar. E é sempre bom ter isso em mente, antes de só defendermos títulos e diretores que podem, muitas vezes, não passar de grandes redes de publicidade.
 Decidi abrir esta temporada de caça com Trapaça O Lobo de Wall Street. E para não perder a oportunidade de comentar algo incrível para a cidade de Belém, optei também por trazer meus comentários para a obra do cineasta Lars Von Trier, Ninfomaníaca.





01 – O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese: eu realmente vejo como as plateias tem mudado. Lançar este filme hoje, em pleno ano de 2014, deveria causar menos desconforto, não é? Há algum tempo atrás, as obras de Scorsese também eram tão incorretas, sujas, se não mais violentas (é só lembrar de Caminhos PerigososCassinoOs Bons Companheiros, grandes referências), mas pareciam não ganhar tamanha reclamação. Parece acontecer, hoje em dia, um conservadorismo esquizoide em grandiosidade, o qual faz muitos se esquecerem de pensar que uma obra de ficção não precisa ser um manual de autoajuda e de bons modos.
Este novo filme do diretor americano tem tudo: um roteiro bem amarrado, montado pela fabulosa Thelma Schoonmaker, e que aborda o centro nervoso das operações financeiras americanas, Wall Street, suas corrupções e ilusões; uma atuação muito boa de Leonardo DiCaprio, inspirado por todo o modus operandi de pastores evangélicos e vendedores de Herbalife e Amway; um ator coadjuvante revelador interpretado pelo Jonah Hill, o mesmo do engraçado Superbad; planos de câmera precisos; e uma trilha sonora cool, porém nada invasiva.
Alguns podem até achar excessivo, mas a atmosfera over, embalada pelo maior índice de fucks proferidos na história do cinema recente, faz a experiência de quase 03 horas da obra passarem voando. 






02 – American Hustle, de David O. Russell: aqui eu vejo problemas. Por sinal, gosto deste diretor, o qual me chamou a atenção em Huckabees e depois em O Vencedor. Entretanto, este seu novo filme, ganhador de título ruim no Brasil, Trapaça, é desejoso, ingênuo e que tem seu melhor momento no trailer.
O filme se passa em plena década de 1970, período inquieto para muitas cidades americanas, ainda mais se tratando do submundo da máfia e das festas da era disco, quando uma dupla de vigaristas age, em várias frentes, para lucrar (Bale e Adams) com seus golpes. O que ocorre? Bem, não há nenhum consumo de drogas, nada de violência, quase nada de palavrões, total ausência de sexo e uma higienização tão conservadora e lúdica, a qual nos faz acreditar que a intenção da produção era a de fazer com que o filme pudesse ser enquadrado na sessão infantil.
O filme é tão correto que irrita, assim como a interpretação chata do Bradley Cooper interpretando, mais uma vez, a si mesmo. Logo após a sessão, eu comecei a achá-lo uma bobagem para receber prêmios. E tem mais! Para além das atuações da Amy Adams e do Christian Bale, a obra é um interminável vídeo clipe, com grandes sequências em que a narrativa usual desaparece com alguma música legal, somente. Diga-se de passagem que a trilha sonora interfere tanto, mas tanto, que passamos a acreditar que praticamente não houve texto no roteiro (algo que me lembra o medíocre do Zack Snyder e o repetitivo Quentin Tarantino, destaque neste último para sua recente fase pretensiosa).
Sobre a Jennifer Lawrence: a moça é boa, mas sua atuação no filme tem suas derrapadas. Acredito que ela está muito novinha para ser alçada, compulsoriamente, ao patamar de nova queridinha de Hollywood. Ninguém pode mais amadurecer? Há uma sequência, por sinal, que a J-Law dubla Paul McCartney que eu não gostei mesmo.





03 – Ninfomaníaca, de Lars Von Trier: último capítulo da Trilogia da Depressão (ótimo título de trilogia este, hein?), ao lado de Anticristo Melancolia. Esta primeira parte do filme do cineasta dinamarquês chega às salas de cinema de Belém, subverte a publicidade do sexo para algo no nível do insosso e do esvaziado, e transforma o apelo do erótico em um mensageiro deliberadamente cínico.
 A história é bem simples: uma mulher, interpretada, mais uma vez, por Charlotte Gainsbourg (Joe), é socorrida pelo ator Stellan Skarsgård (Seligman) e resolve lhe contar toda sua narrativa pessoal, a qual lhe levou até aquele momento. Sabido disso, temos à frente um manifesto que beira o misógino sobre a construção cultural dos relacionamentos, sobre o impedimento moral da liberdade do prazer, analogias com o universo da música, da pescaria e da imagem experimental, experiências travadas entre dois personagens com visões distintas de conceber o mundo.
Por sinal, vi muita gente reclamando ao término da obra, pois a mesma tinha sacanagem de menos, ou se tinha, a transformava em algo sem clímax. Sem comentários a respeito desse tipo de ideia. Até parece que a pornografia não está ao alcance de todos na Internet. De qualquer forma, uma sacada válida desta obra reside na recepção, ou na expectativa interrompida – um tipo de fantasia frustrada.


John Fletcher


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