Neste domingo, tive uma das experiências mais marcantes de minha vida. Um
dia no Rock in Rio 2013. Minha intenção era simples e objetiva: ver (de perto)
o show do Iron Maiden, banda trilha sonora de minha adolescência. Mas, com 85
mil ingressos vendidos em menos de 10 horas, imaginar o caos não era tão
difícil.
Decidimos (fui em família ao show, com irmã, prima e cunhado) chegar
antes dos portões abrirem e ‘acampar’ na frente do palco Mundo, onde seria o
show. Para isso, chegamos antes das 12h e já encontramos uma espécie de
fila/multidão aglomerada na frente dos portões, que só abririam às 14h. Era um
sol infernal, calor e euforia para todos os lados. As pessoas ali estavam tão
ansiosas que antes das 13h já estavam todos de pé, juntinhos, apreciando os
portões fechados. Nós ali, da mesma maneira, guardávamos nosso lugar na ‘fila’
como quem cuida de uma criança.
Salvos pela sombra da bandeira do Barcelona de minha prima, que mais
tarde fora engolida pela multidão, sobrevivemos ao início da jornada. 14h e os
portões finalmente se abriram. Todos se aglomerando mais e mais enquanto 3
seguranças faziam a revista inicial, o que tornava a entrada muito mais lenta
do que o necessário.
Uma procissão, a passos de formiga, caminhava até as catracas que
finalmente nos liberariam para o tão desejado lugar na grade. Logo depois deste
ponto, 100 metros rasos! A grande maioria, coincidentemente, corria em direção à
mesma grade de nosso desejo. Depois de
correr metade do caminho e rastejar o restante, cheguei ao nosso destino onde
minha irmã e prima já iniciavam nosso acampamento.
Tínhamos o nosso kit de sobrevivência, com panos para estender no chão
demarcando território, barras de cereal de todos os sabores, garrafas de água,
protetor solar, óculos escuros e a bandeira do Barcelona de cobertura. Eram
15:30h e o primeiro show iniciaria às 18:30h.
Sol. Calor. Tédio. O tempo nesses
momentos parece brincar com a sua paciência. 17h. As pessoas já são tantas em
frente ao palco mundo que já não era possível continuarmos sentados. A maré de
gente começava a subir rapidamente e a ansiedade coletiva nos colocava cada vez
mais apertados em um pequeno espaço.
18:30h e começa o primeiro show. Uma
banda da qual nunca ouvi falar, mas que toca bem e ganhou todo o meu respeito
ao levar o Paul Di’Anno para cantar Ramones. Nesse momento senti pela primeira
vez que aquele esforço insano valeria à pena. O mar de gente, apesar de
dividido entre os dois palcos (palco Mundo e Sunset), já se movimentava como um
organismo vivo, pulsante. Os movimentos eram tão intensos que nesse momento
fomos separados pela correnteza. Ficamos eu, minha prima e o mar.
O primeiro show termina e 1h de espera nos faz relembrar das dores e
cansaços obtidos naquelas primeiras 7h de Rock in Rio. O sol finalmente ameniza
e o Slayer sobe ao palco. Nesse momento abro um parênteses para deixar claro
que, admiro a banda, mas ao contrário de muitos amigos, não me derreto de
amores por eles.
Eu estava ali por um objetivo único; Iron Maiden. Inclusive, por não
querer perder meu lugar na grade, não pude assistir o show do sepultura e Zé
Ramalho no palco Sunset ou mesmo o do Helloween. Mas missão dada é missão
cumprida. E me mantive ali firme, mesmo durante o Slayer, com rodas e rodas se
abrindo e uma correnteza bem mais intensa que antes.
O show acaba, mais 1h de espera. Maldita espera que me fazia repensar
meus motivos de estar ali, com dor na coluna, sede, fome, calor, desconforto,
cansaço.
Então mais um show; outra banda que nunca vi mais gorda. Uma espécie de
trash/heavy/hard/emo. Em meu ‘pré-conceito’ interpretei como uma banda formada
para fins lucrativos, com meninos bonitinhos e cenário bem produzido. Um grupo
de pessoas próximas de mim começaram a cantar “Sad but True” do Metallica durante
uma música daquela banda, parecia se encaixar perfeitamente na sua melodia.
Foi um momento mais tranqüilo, onde pude respirar melhor e até conversar
para passar o tempo. Finalmente o show acaba e mais 1h infame de espera e teste
de persistência.
00h. Palco montado. O Eddie (espécie de mascote da banda) já estava
estampado na bandeira ao fundo. E eles surgem! Todas as pessoas gritam em coro.
Estão todas voltadas para aquele palco. Cada refrão parecia ter sido ensaiado
com todos.
A sensação de ter feito parte
desse momento é inexplicável. O lugar era absurdamente desconfortável. 10, 20,
30 pessoas passaram por mim até a grade para serem socorridas pelos paramédicos.
O calor era inacreditável. Mas a pressão de todos os lados já não incomodava
tanto, parecia que me tornara parte daquele corpo gigante de pessoas cantando
em coro “Fear of The Dark”. Eu sei que não parece apropriado para um show de
heavy metal, mas admito que chorei. Minha emoção era uma mistura de euforia em
ver a banda, êxtase em conseguir meu objetivo, transe coletivo, saudosismo, fascínio.
Em um ambiente absurdamente inóspito pude sentir um prazer incomparável. Eles
ali, bem na minha frente, em uma de suas melhores performances, enquanto eu
assistia a tudo. Eu e mais 85 mil que por uma noite formamos um só ser.
2 comentários:
Um dia sendo massa!
Eu queria ter visto a Pitti, vcs não podiam escrever algo sobre a Pitti?
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