quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Rock in Rio 2013: relato de uma sobrevivente – 22/09/2013


Neste domingo, tive uma das experiências mais marcantes de minha vida. Um dia no Rock in Rio 2013. Minha intenção era simples e objetiva: ver (de perto) o show do Iron Maiden, banda trilha sonora de minha adolescência. Mas, com 85 mil ingressos vendidos em menos de 10 horas, imaginar o caos não era tão difícil.
Decidimos (fui em família ao show, com irmã, prima e cunhado) chegar antes dos portões abrirem e ‘acampar’ na frente do palco Mundo, onde seria o show. Para isso, chegamos antes das 12h e já encontramos uma espécie de fila/multidão aglomerada na frente dos portões, que só abririam às 14h. Era um sol infernal, calor e euforia para todos os lados. As pessoas ali estavam tão ansiosas que antes das 13h já estavam todos de pé, juntinhos, apreciando os portões fechados. Nós ali, da mesma maneira, guardávamos nosso lugar na ‘fila’ como quem cuida de uma criança.
Salvos pela sombra da bandeira do Barcelona de minha prima, que mais tarde fora engolida pela multidão, sobrevivemos ao início da jornada. 14h e os portões finalmente se abriram. Todos se aglomerando mais e mais enquanto 3 seguranças faziam a revista inicial, o que tornava a entrada muito mais lenta do que o necessário.
Uma procissão, a passos de formiga, caminhava até as catracas que finalmente nos liberariam para o tão desejado lugar na grade. Logo depois deste ponto, 100 metros rasos! A grande maioria, coincidentemente, corria em direção à mesma grade de nosso desejo.  Depois de correr metade do caminho e rastejar o restante, cheguei ao nosso destino onde minha irmã e prima já iniciavam nosso acampamento.
Tínhamos o nosso kit de sobrevivência, com panos para estender no chão demarcando território, barras de cereal de todos os sabores, garrafas de água, protetor solar, óculos escuros e a bandeira do Barcelona de cobertura. Eram 15:30h e o primeiro show iniciaria às 18:30h.
 Sol. Calor. Tédio. O tempo nesses momentos parece brincar com a sua paciência. 17h. As pessoas já são tantas em frente ao palco mundo que já não era possível continuarmos sentados. A maré de gente começava a subir rapidamente e a ansiedade coletiva nos colocava cada vez mais apertados em um pequeno espaço.
 18:30h e começa o primeiro show. Uma banda da qual nunca ouvi falar, mas que toca bem e ganhou todo o meu respeito ao levar o Paul Di’Anno para cantar Ramones. Nesse momento senti pela primeira vez que aquele esforço insano valeria à pena. O mar de gente, apesar de dividido entre os dois palcos (palco Mundo e Sunset), já se movimentava como um organismo vivo, pulsante. Os movimentos eram tão intensos que nesse momento fomos separados pela correnteza. Ficamos eu, minha prima e o mar.
O primeiro show termina e 1h de espera nos faz relembrar das dores e cansaços obtidos naquelas primeiras 7h de Rock in Rio. O sol finalmente ameniza e o Slayer sobe ao palco. Nesse momento abro um parênteses para deixar claro que, admiro a banda, mas ao contrário de muitos amigos, não me derreto de amores por eles.
Eu estava ali por um objetivo único; Iron Maiden. Inclusive, por não querer perder meu lugar na grade, não pude assistir o show do sepultura e Zé Ramalho no palco Sunset ou mesmo o do Helloween. Mas missão dada é missão cumprida. E me mantive ali firme, mesmo durante o Slayer, com rodas e rodas se abrindo e uma correnteza bem mais intensa que antes.
O show acaba, mais 1h de espera. Maldita espera que me fazia repensar meus motivos de estar ali, com dor na coluna, sede, fome, calor, desconforto, cansaço.
Então mais um show; outra banda que nunca vi mais gorda. Uma espécie de trash/heavy/hard/emo. Em meu ‘pré-conceito’ interpretei como uma banda formada para fins lucrativos, com meninos bonitinhos e cenário bem produzido. Um grupo de pessoas próximas de mim começaram a cantar “Sad but True” do Metallica durante uma música daquela banda, parecia se encaixar perfeitamente na sua melodia.
Foi um momento mais tranqüilo, onde pude respirar melhor e até conversar para passar o tempo. Finalmente o show acaba e mais 1h infame de espera e teste de persistência.
00h. Palco montado. O Eddie (espécie de mascote da banda) já estava estampado na bandeira ao fundo. E eles surgem! Todas as pessoas gritam em coro. Estão todas voltadas para aquele palco. Cada refrão parecia ter sido ensaiado com todos.

 A sensação de ter feito parte desse momento é inexplicável. O lugar era absurdamente desconfortável. 10, 20, 30 pessoas passaram por mim até a grade para serem socorridas pelos paramédicos. O calor era inacreditável. Mas a pressão de todos os lados já não incomodava tanto, parecia que me tornara parte daquele corpo gigante de pessoas cantando em coro “Fear of The Dark”. Eu sei que não parece apropriado para um show de heavy metal, mas admito que chorei. Minha emoção era uma mistura de euforia em ver a banda, êxtase em conseguir meu objetivo, transe coletivo, saudosismo, fascínio. Em um ambiente absurdamente inóspito pude sentir um prazer incomparável. Eles ali, bem na minha frente, em uma de suas melhores performances, enquanto eu assistia a tudo. Eu e mais 85 mil que por uma noite formamos um só ser.



2 comentários:

Bruno Cantuária disse...

Um dia sendo massa!

Anônimo disse...

Eu queria ter visto a Pitti, vcs não podiam escrever algo sobre a Pitti?