segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

CINEMATECA: Sobre a estréia do Doc. "Ópera, o Bonzão Bonitão"


Sacanagem no sábado à noite
Imagens feita numa humilde câmera de celular.

Parecia que a grande estrela da noite seria “Srta. Bleu”, mostrando como fazer uma boa depilação com gilete e sabão no playground. Uma noite de sábado paradoxal, que foi capaz de quase lotar uma sala de cinema que diariamente conta alguns gatos pingados e depois afugentar esse mesmo público, um início de noite sem aparentemente nada para atrapalhar, nem chuva, nem engarrafamentos, nem incêndios, nem uma manga na cabeça de ninguém, mas infelizmente a tão aguardada noite de sábado levou duas horas e quinze minutos para começar.

O filme/documentário de Victor de La Rocque que estava programado para ser exibido às 19h do dia 02 de fevereiro, um sábado, bem antes da evasão para o carnaval, foi um sucesso e um breve fracasso. Criou-se bastante expectativa e ansiedade, afinal, não era um filme sobre arte, performance ou sobre galinhas, é sobre o último cinema de rua de Belém, o cinema “Ópera, O Bonzão - Bonitão”, o qual não é um simples cinema de rua, é também a famosa sala de cinema que exibe filmes pornográficos (antigos, ok...ah) que fica na Avenida Nazaré, onde passa o Círio e bem próximo a Basílica de Nazaré (Meu Deus, que horror! Sacrilégio! Ohhhhh...). E mais, a pré-estreia foi justamente no próprio Cine Ópera, que há tempos não via tantas pessoas botando os pés naquele lugar que no passado abrigou peças teatrais e exibiu clássicos do cinema. (Ai, que perdição...)

Já eram 19h35 e nada do filme começar, mas o encontro com amigos renderam bastantes conversas e piadas neste local diferente para a maioria presente, e sempre chegavam mais e mais pessoas. Posso chutar que Victor conseguiu mobilizar cerca de 800 pessoas até o Ópera, talvez mais, muitas levadas pela curiosidade de saber como é aquele “antro de sacanagem” por dentro e como seria o documentário, o que seria mostrado, as histórias...aff. Corre-corre pra lá, leva data-show pra cá, trás outro notebook e a espera foi ficando tensa, aliando o clima abafado e o cheiro de água sanitária que estava no ar (limparam o lugar, ufa, posso sentar e tocar nas coisas), mas o tempo foi passando e continuavam chegando mais pessoas até que num determinado momento (uma hora depois) o diretor/artista subiu ao palco e comunicou que estavam com um problema técnico, pediu desculpas pelo atraso e comunicou que quem quisesse sair para pegar um ar fresco não estaria causando nenhum desagrado (bom, desagrado era esperar tanto, mesmo com entrada franca).

Para passar o tempo e corrigir as “falhas técnicas”, a direção do local resolveu passar trechos de filmes “educativos para maiores” o que gerou risadas em alguns momentos com o belo roteiro das histórias e pelas belíssimas cenas, como a Srta. Bleu depilando “as vergonhas”. Estava conversando com um amigo quando um rapaz chegou e perguntou se aquilo já era o documentário (hahahaha, rimos em pensamento, dissemos que não, o documentário seria passado depois por causa de problemas). Quando cortaram o filme da "Angella" e da "Srta. Bleu" e deixaram a tela azul, um AHHHHHHHHHHH bem sacana irrompeu a sala. Mais uma hora de tela azul. Lá fora pegando um ar fresco e escutando as reclamações sobre o vacilo de não começar no horário, nem depois do horário, e nem nos acréscimos, o público começou a procurar outras programações para não perder a noite. Alguns ainda esperançosos, resistentes, ficaram lá tomando um tacacá, fumando, bebendo ou simplesmente esperando. Acredito que a chuva chegou para refrescar os ânimos, a noite e segurar parte do público minutos antes de finalmente começar a sessão tão aguardada.

Deu-se o início da exibição às 21h15, com uma “entrada dura” pós felação e cerca de 300 resistentes e ansiosos espectadores (amigos, cinéfilos, participantes, curiosos) distribuídos nas mais de “1.000 cadeiras de pau”, como diziam os mais graciosos (as filas de cadeiras de madeira e os ventiladores lembram muito o velho Iracema... que Iracema?). O filme começa bastante forte, impróprio para menores e pessoas pudicas, mas depois traz histórias e curiosidades se tornando algo bem elucidativo, didático, saudosista em alguns momentos. Tem um bom desfecho, “bombando” as expectativas e curiosidades de saber, estar, ver um filme no Cine Ópera. Uma pena que algumas partes do filme têm o áudio ruim, e o “pau d’água” que caiu piorava essas partes, totalmente inaudível, mas só em alguns momentos. O aspecto visual, luz, montagem, recortes, ângulos de câmera, tudo funcionava bem, bastante atraente. Terminado tudo, novamente pedidos de desculpas pelo grande atraso, pelo problema e agradecimentos para o público presente e paciente que ali estava e para os demais como é de praxe.

Parabéns ao Victor pela ousadia e bom material realizado sobre esse ponto de resistência, ponto de prazeres e bizarrices, essa parte presente na memória de uns e no imaginário do povo de Belém. Acho que a infelicidade pelo atraso de duas horas e quinze minutos contados no relógio e o amadorismo nessa área para ele devem ser atenuadas pela qualidade do material, que sirva de aprendizado para futuros projetos. Não é uma obra prima, tem algumas falhas técnicas que precisam ser revistas, mas nada grave, só testar a mídia horas antes da exibição para não passar por novos perrengues. Uma noite cheia de sacanagem, na tela, nos pensamentos, no atraso, nas piadas e na história desse gigante de piso escuro com mais de mil assentos, cheiro de suor, esperma e água sanitária.

Bruno Cantuária



7 comentários:

Ramiro Quaresma disse...

Gostei muito do texto Bruno, despojado e bem engraçado. Acabei nem vendo o filme.

Anônimo disse...

Aconteceu td isso? Vi agora o texto,parabéns Bruno.

Ricardo Macêdo

Adriele Silva da Silva disse...

Tudo isso e talvez mais algumas coisas Ricardo Macêdo =} bjs

Aloisio Cantuária disse...

Estive lá. Mas a espera demasiada - essa foi pornográfica - acabou me mandando embora; compromissos são programados. No século XXI imprevistos devem ser previstos, para que o trabalho adquira mais profissionalismo, até para que, como arte sobre espaço da arte, possa alçar outros voos. Espero que as deficiências sejam sanadas, para que essa iniciativa possa ser melhor apreciada. E sem longas esperas, que aí já é entrar no terreno da concorrência da especialidade atual do "Bonzão-Bonitão".

Anônimo disse...

O filme começou duro e depois ficou mole. :)

Anônimo disse...

Obrigado pelo texto Bruno Cantuária! e novamente exponho aqui meu pedido sincero de desculpas pelo atraso absurdo. Quanto ao som, a falta de qualidade não está no filme em si, mas na qualidade dos equipamentos de audio do cine ópera, bem como seus projetores, porém a idéia de levar o público até o cinema, mesmo que com todas as falhas de qualidade que ele possui para a exibição do doc, era justamente de sensibilizar a todos sobre a importância daquele lugar na cidade. Porém infelizmente, como você mesmo diz, fracassei no sentido do atraso em demasia para a exibição do filme por problemas de ordem prática que deveria ter sido pensado e solucionado antes como possibilidade (que isso me sirva de lição e aprendizado). Agradeço a tua presença e persistência para a assistir o filme, e desde já me comprometo, como publiquei anteriormente em minha página pessoal do facebook, em realizar uma nova exibição do documentário, dando assim uma nova oportunidade de o público conferir o documentário (e dessa vez GARANTO que não haverá atrasos de minha parte).
VICTOR DE LA ROCQUE

Anônimo disse...

Legal tua postura nessas palavras acima Victor. Acho q em resposta ao fracasso (e as brincadeiras que advieram da noite de lançamento devido aos problemas - nós mesmos, sacaneamos muito rsrs), poder refletir junto com quem passou pelo evento e sofreu com ele, é um ganho imenso pra ti e para as pessoas que gostam de teu trabalho. Abr

Ricardo Macêdo