Belém, 27 de novembro de 2012 - O terceiro número da ZUM, revista de fotografia contemporânea do Instituto Moreira Salles, chega às livrarias de todo o Brasil e terá lançamento em Belém no dia 1º de dezembro, às 19h, no auditório do Museu de Artes do Centro Cultural Brasil Estados Unidos (MABEU).
O momento marcará o último Café Fotográfico promovido pela Associação Fotoativa em 2012, que trará o diálogo entre o editor da revista, Thyago Nogueira, e o fotógrafo Guy Veloso, autor do ensaio “A fé na encruzilhada” na nova publicação.Há dez anos, Guy Veloso percorre o país para identificar e documentar os grupos de penitentes que mantêm viva essa tradição secular. O trabalho culminou na composição de um arquivo com cerca de 10 mil slides, do qual a ZUM pinçou as tiras de filmes que aparecem em sua mais recente edição.
Acompanhadas de uma análise feita por José de Souza Martins, fotógrafo e professor de sociologia da Universidade de São Paulo, as fotos registram o movimento de fé e misticismo que se repetem no Brasil durante a Semana Santa e o Dia de Finados. Esses grupos laicos fazem rituais em cemitérios, encruzilhadas, e às vezes praticam autoflagelação, que só termina quando suas roupas estão totalmente tingidas de sangue.
Mais sobre a ZUM #3:
A revista semestral do IMS publica também o ensaio Transposição, obra mais recente do fotógrafo Caio Reisewitz, que é resultado de viagens feitas em 2012 pelo sertão brasileiro. Ao invés da exuberância do trópico que se vê em seus trabalhos anteriores, as fotos da nova série mostram uma terra ressequida, estéril, poucas vezes atravessada pela água.
ZUM#3 traz ainda imagens raras do último trabalho de Geraldo de Barros (1923-1998), um dos maiores artistas brasileiros. Antes de morrer, o fotógrafo investiu com tesoura e fita adesiva sobre imagens de família esquecidas em caixas de sapatos e desafiou os clichês da fotografia com imagens surpreendentes, construídas sobre lâminas de vidro. A série Sobras refuta a idéia de instante decisivo e nos faz refletir sobre o espaço e o tempo usando imagens antigas, quase todas feitas durante uma viagem de férias com a família. Menos conhecidas que as Fotoformas – série que o consagrou como um dos grandes fotógrafos brasileiros –, as Sobras são as jóias finais de uma carreira em que não faltam talento e ousadia. As imagens desta edição, incluindo a capa da revista, são inéditas e fazem parte do arquivo da família Barros mantido na Suíça. O comentário que acompanha as belíssimas imagens é do jornalista Antonio Gonçalves Filho, que compara Geraldo a mestres como Henri Matisse e Andrei Tarkóvski.
Enviado pela ZUM à Brasília para destrinchar o arquivo fotográfico do Serviço Nacional de Informações (SNI) – órgão de segurança da ditadura –, o repórter Plinio Fraga faz uma descoberta: das 15 mil fotos recém-liberadas para consulta pela nova Lei de Acesso à Informação, em vigor desde julho deste ano, pelo menos três provam que crianças foram fichadas como subversivas e terroristas pela ditadura e enviadas ao exílio.
A americana Francesca Woodman (1958-1981), por sua vez, suicidou-se aos 22 anos, depois de produzir centenas de autorretratos preto-e-brancos em que aparece nua e antes de gozar da fama que se lançou sobre sua obra. Quem faz um perfil completo da fotógrafa é o jornalista Arthur Lubow, colaborador de publicações como o jornal The New York Times e a revista The New Yorker. “Ainda que a fotografia de moda tenha servido de inspiração a Woodman, seu trabalho se afasta do gênero pelo senso de urgência e pela autodramatização”. Bombástico e despudorado, o trabalho de Woodman foi objeto de uma grande retrospectiva recente no Museu Guggenheim (Nova York) e de uma pequena mostra na galeria Mendes Wood (São Paulo).
Pouco conhecido no Brasil, o italiano Luigi Ghirri (1943-1992) é daqueles artistas raros e formidáveis que, uma vez descobertos, são capazes de mudar nossa visão do mundo. ZUM publica um portfólio que evidencia a visão original do fotógrafo, responsável por unir, na fotografia em cores, a elegância da composição italiana ao improviso do cinema neorrealista. Ghirri reinventou a paisagem italiana e foi tão prolífico em fotos quanto em texto sobre fotografia. Nesta edição, ZUM publica o ensaio Kodachrome, escrito pelo fotógrafo, que afirma que “não me interessam: as imagens e os instantes decisivos, o estudo e a análise da linguagem como fim e si mesmo, a estética, o conceito ou a idéia totalizante, a emoção do poeta, a citação culta, a busca de um novo credo estético, o uso de um estilo. “Meu compromisso é ver com clareza”. A revista do IMS traz também um artigo da professora italiana Marina Spunta sobre as diversas influências do fotógrafo, que vão de Michelangelo Antonioni a Bob Dylan.
Criado no fotojornalismo de Joanesburgo, Santu Mofokeng é autor de uma obra profundamente original e um dos mestres da fotografia sul-africana. Nesta edição, ele apresenta o ensaio Perseguindo sombras e discute, em entrevista com a historiadora da arte Tamar Garb, o papel dos negros na fotografia, pondo em xeque a ideia de documentário social.
A propriedade da terra, a marginalização econômica e a espiritualidade são alguns dos grãos políticos que formam seu trabalho mais recente, apresentado por Jyoti Mistry, professora da Escola de Artes da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo.
Em 1931, August Sander (1876-1964) foi ao rádio para saudar o poder de comunicação da fotografia. Uma década depois, em plena guerra, o fotógrafo alemão seria perseguido e um lote de seu arquivo, destruído. Em homenagem a um dos maiores retratistas do século XX, ZUM publica a tradução inédita de uma rara palestra que Sander proferiu na rádio para demonstrar seu otimismo em relação à fotografia. As ideias que expõe são cruciais para entender sua obra máxima, Os homens do século XX, composta de mais de seiscentas imagens e atualmente exposta na 30ª Bienal de Arte de São Paulo.
A revista de fotografia do IMS também publica imagens dos arquivos do Grupo Atlas, criado pelo artista libanês Walid Raad para documentar e discutir a história contemporânea de seu país, com ênfase nas guerras civis de 1975 a 1990. Raad encontrou ou criou documentos sonoros, visuais e escritos que lançam perguntas sobre como a história é produzida. O texto de apresentação do Grupo Atlas é do curador e professor da Universidade de Lisboa Sergio Mah. Os conflitos que agora se espraiam pelo país dão a esse trabalho uma importância tragicamente atual.
A jornalista Dorrit Harazim narra a vida de um professor americano que mudou a história ao cruzar com duas fotografias: depois de ver a imagem de um linchamento em Indiana, Abel Meeropol escreveu a canção “Strange Fruit”, eternizada pela voz de Billie Holiday; a partir da fotografia dos órfãos de um casal de espiões condenados à morte, o poeta-compositor construiu uma família.
O fotógrafo e professor americano Stephen Shore dá um aula sobre forma e conteúdo na fotografia a partir de suas imagens clássicas. “A forma – a estrutura – não é um requinte estético aplicado ao conteúdo. Não é uma calda artística que se derrama sobre o conteúdo. É uma expressão do entendimento”, afirma.
Eduardo Climachauska é artista plástico, cineasta e compositor. Nas 16 imagens publicadas na ZUM, com comentário do crítico de arte Rodrigo Naves, Clima, como é chamado, revela, entre a luz e a sombra, a vida oculta dos cães de rua. “Contrapostos a bueiros, a uma fogueira miúda ou a uma carroça de catador de papéis, os cachorros recebem uma qualificação desses objetos cotidianos associados aos refugos. Ou então espelham uns aos outros, como a impedir que sua imagem desse margem a outros significados ou metáforas”, analisa Naves.
Por fim, o fotógrafo Tuca Vieira conta a história de uma fotografia de sua autoria que se libertou do autor, ganhou o mundo e foi parar no Facebook, onde provocou milhares de comentários de todos os tipos e procedências. A foto da favela de Paraisópolis foi feita em São Paulo, há cerca de dez anos.
Serviço:
Data: 01.12.2012 | Hora: 19h | Local: AUDITÓRIO DO CCBEU – Travessa Padre Eutíquio, 1309, Batista Campos. Belém – Pará | Entrada franca
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