quinta-feira, 5 de junho de 2014

Nesta sexta abertura da exposição "Um Mestre Nato", na Galeria Theodoro Braga


Nesta sexta, 06 de junho, às 19h, abertura da exposição "Um Mestre Nato", na Galeria Theodoro Braga

“Cortejos e Festejos para Mestre Nato”

         Uma lembrança singela a vagar em meus pensamentos desde os tempos d’eu criança, quando ansioso aguardava minha mãe ao terminar um bordado com miçangas e pérolas de um vestido de noiva caprichadamente produzido pelo “tio Mundinho” (como nós sobrinhos e parentes próximos o chamavam). Hoje me deparo com a imensidão de um universo espiritual de cores, entidades, encantarias e pedrarias que Mestre Nato construiu e nos deixou para viajarmos eternamente em sua arte popular.
Assim seguimos em cortejos, festejando sua passagem iluminada nesse mundo, nos presenteando com sua arte encantadora. Festejando a liberdade que o artista sempre buscou e conquistou, sendo bem representada nas obras que produzia. Festejando por tê-lo junto na família onde, sempre de forma serena, transmitia seus conhecimentos e dava bons conselhos. Festejando a inquietação de um artista que viveu 62 anos de muitas produções e experimentações, sendo reconhecido pela comunidade artística como um Mestre. Nosso Mestre!
Ao iniciar sua carreira como alfaiate quando adolescente, Mestre Nato absorveu toda sua essência popular no bairro onde se criou e viveu seus últimos dias, o Bairro do Guamá. Para a composição e construção de suas obras utilizava técnicas advindas de seu ofício, como bordados, aplicações de pedrarias, pintura em tecido, tecido sobre tecido, tecido com matalassê acolchoado, etc., transformando suas peças num verdadeiro cenário narrativo, nomeado pelo próprio artista de “narrativas costuradas”, com trajetórias de personagens sagrados e da cultura popular regional.
Seguindo estudos sobre as festas e folguedos tradicionais ocorridos no Pará, são nítidas as heranças culturais africanas e tradições indígenas incorporadas junto ao catolicismo em devoção aos santos padroeiros, organizando uma reinterpretação, onde novos significados são atribuídos aos antigos elementos da cultura religiosa portuguesa, expressos fortemente nas festas e tradições da quadra junina, período muito bem quisto e vivido pelo Nato.
 Com isso, os estandartes compostos pelo Mestre por si só já possuem uma simbologia representativa de afirmação, identidade, resistência. Circulam neste ambiente entrelaçando vozes de culturas distintas pertencentes à formação do povo brasileiro, redirecionando o pensamento desse povo e a forma de portar-se em relação ao meio em que vive.
Aproveitando esse espírito festivo existente na essência do artista e no imaginário amazônida, fica a nossa homenagem, seguindo uma devoção ao seu ideal e sua natural imortalidade expressa na arte popular, que nasce, cresce e se eterniza na vida cabocla, de naturezas diversas. Um povo em constante celebração.                                      


 Alexandre Nogueira

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