quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Oscar 2014 - 3º Parte



Último post sobre o Oscar 2014. A cerimônia ocorre neste domingo, então não pensei deixar de comentar os filmes restantes. De acordo com as cotações e premiações desta temporada, é possível que 12 Anos de Escravidão leve a estatueta de Melhor Filme, mas muito se sugere que Alfonso Cuarón, de Gravidade, leve a de Melhor Diretor. Quanto aos prêmios de atuação, temos: Melhor Ator para Matthew McConaughey, pelo Clube de Compras Dallas; Melhor Atriz para Cate Blanchett, por Blue Jasmine; Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, pelo Clube de Compras Dallas; e Melhor Atriz Coadjuvante para Jennifer Lawrence, por Trapaça. Será?



01 – 12 Anos de Escravidão, de Steve McQueen: muito tem se falado a respeito do novo longa de McQueen, diretor do ótimo Shame, com Michael Fassbender. E não é à toa. Este longa surge com marcação política e declarada imprescindível para se entender uma história americana sem maquiagens, ainda recente, mas que durante muito tempo foi posta no silêncio.
 Chiwetel Ejiofor, o protagonista que já participou, dentre outros, de Filhos da Esperança (Cuarón), O Gângster (Riddley Scott), Coisas Belas e Sujas (Frears) e Melinda e Melinda (Woody Allen), vive Solomon Northup, homem livre e sequestrado para ser escravo no sul dos EUA. Ao lado dele, surgem as personagens de Lupita Nyong’o, Patsey, e de Michael Fassbender, o violento dono de terras Edwin Epps, além de outros com menores destaques.
Com um alto teor de violência, 12 Anos de Escravidão já faz parte do currículo escolar americano para se entender, visualmente, parte de uma história das populações escravizadas e negras, postas às margens dos direitos. Por sinal, em meio a toda a tragédia do filme, é possível detectar os princípios do jazz sendo criado pelos homens e mulheres escravizados durante as plantações nas lavouras e em condições sub-humanas.
Ainda que ocorra uma difícil sugestão de tempo (os 12 anos não ficam tão claros como deveriam) e uma inútil participação de Brad Pitt (canalha, num papel de uns 10 minutos, o qual lhe garantiu um dos cartazes principais do longa), encontramos um ótimo achado com a promissora Quvenzhané Wallis (filha de Solomon, mesma atriz que protagonizou o filme Indomável Sonhadora).



02 – Clube de Compras Dallas, de Jean-Marc Vallé: pelo visto a premiação deste ano buscou ser mais relevante socialmente. Com esta história, a qual se passa no Noroeste dos EUA, durante o período de início da contaminação pelo vírus HIV (anos 1980), The Dallas Buyers Club traz excelente personagem interpretado por Matthew McConaughey.
 A obra, a qual mostra um eletricista preconceituoso, deflagra a ignorância e o machismo contra as comunidades homoafetivas, dentro de uma ótica de redenção trágica, quando o protagonista se vê amparado somente por aqueles os quais buscou crucificar. Sua jornada começa quando percebe na pele os insucessos do medicamento AZT, ainda em início de testes, e tem de enfrentar as burocracias do Governo Americano para conseguir outros componentes, em outros países e laboratórios, do conhecido coquetel (ele vira, ao lado de Leto, um mercador underground).
 A personagem de Jared Leto, por sinal, a mulher trans Rayon, ilumina a tela. Ela é de uma delicadeza, bom humor e fragilidade tão sinceros, que não há como não achar que sua interpretação não existe, de fato, na vida do lado de cá da tela. Também conhecido por sua atuação em Réquiem para um Sonho, de Darren Aronofsky, o ator faz nos perguntarmos: porque diabos ele continua com sua chata banda, 30 Seconds to Mars?




03 – Philomena, de Stephen Frears: e olha quem vem neste Oscar, o grande Frears, diretor dos clássicos Os ImoraisAlta FidelidadeA RainhaCoisas Belas e SujasLigações PerigosasMinha Adorável Lavanderia, dentro tantos outros. E vem muito bem.
A história, baseada também em fatos reais, trata de Philomena, interpretada por Judi Dench, a qual é ajudada pelo jornalista interpretado por Steve Coogan para saber o que ocorreu com um grande segredo guardado por mais de 50 anos. Bem, não vou falar muito, pois tudo pode incorrer no spoiler, mas este é, basicamente, o mote para outra denúncia contra o ultraconservadorismo católico de meados do século XX e o ultraconservadorismo presente nos dias de hoje, agora contra outros tipos de comportamentos.
Tudo é inesperado, sem parecer forçado. Eu me vi, inúmeras vezes, rindo nervosamente de situações ora trágicas, ora sensíveis.




04 – Nebraska, de Alexander Payne: para encerrar com os filmes indicados ao grande prêmio da academia, Nebraska, do diretor dos excelentes Os DescendentesSideways Eleição.
Com Bruce Dern, pai da Laura Dern e emblemático ator de filmes como Marnie Trama Macabra, ambos de Alfred Hitchcock, esta atual obra, toda filmada em preto e branco, esteticamente muito refinada, conta a história de Woody Grant (Dern), o qual vai de Montana até Nebraska para solicitar seu prêmio de um milhão de dólares com a ajuda de seu filho (o personagem David Grant, vivido por Will Forte).
 É claro que este mote serve para uma comédia de hábitos do meio oeste americano, quando Woody já é alçado, por toda a comunidade de sua cidade, à categoria de milionário, sem ao menos ainda ter recebido seu dinheiro. Além do roteiro ágil, com diálogos velozes, merece atenção o personagem da atriz June Squibb (Kate Grant, a matriarca da família).
 Nebraska é, ao lado de Her, um filme muito sensível. Toda a sua construção converge para uma boa maneira de contar uma história, sem soar datada. É sempre um prazer muito grande ver quando estes longas mais autorais conseguem seu devido reconhecimento frente à opinião muitas vezes acadêmica da academia.


John Fletcher

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