domingo, 16 de fevereiro de 2014

Oscar 2014 - 2º Parte



Vamos conversar mais sobre os filmes do Oscar? Desta vez, o espaço vai para o mais recente lançamento no circuito paraense, Ela, além de uma leitura informal a respeito de Gravidade Álbum de Família, e mais outra sobre um grande fiasco, Capitão Phillips.




01 – Her, de Spike Jonze: todo mundo já tem uma noção da carreira do Jonze, mesmo sem saber. Este  diretor, dos filmes Quero ser John MalkovichAdaptação Onde Vivem os Monstros, também já dirigiu vídeos clássicos para os Beastie Boys (Sabotage), Daft Punk (Da Funk), Arcade Fire (The Suburbs), Chemical Brothers (Electrobank), Elastica (Car Song), e um conjunto de pérolas para o Sonic Youth e para a Bjork, entre tantos outros mais.
Sua mais recente obra, independente, com um elenco que traz Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson e Amy Adams, além de possuir a melhor canção indicada para o prêmio da academia cinematográfica deste ano (Moon Song, com a Karen O., vocalista dos Yeah Yeah Yeahs), é um tratado sobre os nossos dias, quando o excesso de virtualidade, de redes e de solidão são capazes de mostrar nossa imensa fragilidade e o papel ingênuo que temos quanto à linha tênue que separa real de imaginário.
 A premissa aborda um relacionamento entre a personagem de Phoenix e uma nova tecnologia de inteligência artificial (a ótima Johansson, convincente sendo nada mais do que uma voz). Semelhante, em uma escala muito mais ampla pelo território da sci-fi e da companhia virtual, aos irritantes tamagotchis de outrora, a obra do diretor vira condutor para textos delicados, situações melancólicas e românticas e uma sensação de identificação.
Acredito que este filme traz mais um sinal para os bizarros caminhos que temos tomado pela desconexão, pela incapacidade de viver a realidade como palco de diferença (e, portanto, de negociações) e pela trágica natureza de se refugiar em eternos simulacros.




02 – Gravidade, de Alfonso Cuarón: este representante do lado dos filmes blockbusters já tinha estreado há algum tempo atrás. A confirmação entre os candidatos ao Oscar de Melhor Filme mostra que sua carreira foi bem sucedida, mesmo permeada por algumas controvérsias para as plateias mais atentas.
Cuarón (diretor de E sua Mãe Também, do bacana Filhos da Esperança e do melhor da série Harry Potter) não poupou estratégias para seu longa. Com efeitos visuais, fotográficos e um 3D deslumbrante, chamou dois nomes de peso (a repetitiva Sandra Bullock e o canastrão George Clooney) para falar da história de uma astronauta que passa por maus bocados na órbita terrestre, após um acidente no satélite no qual estava trabalhando com sua equipe.
Bem, não há muito espaço para profundidade psicológica, até por que este tipo de filme não foi feito para tal. O encadeamento dos eventos prima por um suspense legal, mas, às vezes, um pouco exagerado, o que coloca muitos em descrença com o excesso de contratempos sofridos pela personagem de Bullock. A trilha sonora dá um tema bastante imersivo.
Tem muita gente autenticando Gravidade como um dos melhores filmes do ano (em parte influenciados pelo roteiro rasteiro e pela simpatia da Bullock), mas, fora excessos, é uma obra para se ver sem cobranças, nem comparações absurdas com o grande cinema sci-fi de Kubrick ou de Tarkovski.


  


03 – Álbum de Família, de John Wells: eis um filme inesperado. Dirigido por Wells, um desconhecido e de poucos títulos para os nomes da direção, mas com uma carreira muito mais ampla como produtor, esta obra é um novo exemplar do teatro filmado.
Com um elenco famoso e com atuações dignas (Meryl Streep está, mais uma vez, deslumbrante, ao lado de personagens interpretados muito bem por Julia Roberts, Chris Cooper, Martin Martindale, Juliett Lewis, Abigail Breslin, Benedict Cumberbatch e Ewan McGregor), a história trafega entre a comédia e a tragédia, delicadamente.
 Quando o marido da personagem de Meryl morre, desiludidamente, ocorre uma reunião com todos os familiares, na casa da matriarca da família (da própria Meryl). Fantasmas e realidades destruídas vêm à tona, diálogos ágeis e nada redentores são proferidos, ao passo que nós somos tomados por uma narrativa dramática, mas completamente hipnótica.
 





04 – Capitão Phillips, de Paul Greengrass: o novo filme do britânico, diretor dos excelentes Vôo United 93Domingo Sangrento e a segunda e terceira parte da trilogia Bourne, peca feio, na minha opinião.
Qual é esse problema? Bem, não está tão aparente, mas nas entrelinhas, escondido entre a montagem e direção espetacular, assinaturas conhecidas de Greengrass. E este problema, basicamente, aparece em uma narrativa a qual trata do Capitão Phillips (o  bonachão Tom Hanks), grande herói americano, sacrifício conservador e politicamente correto, o qual se entrega no lugar de sua tripulação.
 Mas como assim? Simples, a informação passada é a de que os EUA só querem ajudar as áreas pobres do mundo contemporâneo (o filme nem coloca a situação em imparcialidade, ao observar que esse mesmo país contribui para potencializar tal quadro), como é o caso do continente africano.
Penso que Capitão Phillips é mais um representante do colonialismo perpetrado pela imagem. Edward Said já tinha advertido sobre esses efeitos Orientalistas, mas a estratégia permanece. E para completar o pacote, o Tom Hanks ainda força a barra com sua atuação.

John Fletcher 

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