Nossa colaboradora Amanda Jones, relata nesse texto sua percepção do momento em que vivemos, tendo como guia, o olhar de quem mora na cidade de São Paulo e é afetado pela crise que atravessamos.
Pensamentos de uma observadora brasileira professora de classe média-baixa que usa transporte público
Durante a greve dos professores estaduais e municipais de São Paulo deste ano eu particularmente me deparei com algo que pensei só existir em mentes com mania de perseguição ou mesmo em filmes; a tal da manipulação das mídias.
Não que eu desconhecesse o poder e a maneira
distorcida de se contar a história presente nos meios midiáticos, porém, não
acreditava que um país pudesse ser tão manipulável.
Trocar 1 por 2, omitir algumas coisas, não se comparam ao boicote (isso sim, boicote!) que houve durante a greve dos professores. 6 mil professores se tornaram 800, mais de 15 reivindicações sobre necessidades básicas para o funcionamento de uma escola, acabaram se tornando uma só; a salarial. E assim uma manifestação importante do estado de SP se tornou alguns gatos pingados chorando por um ‘aumento’.
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Charge de Marco Marilungo
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Trocar 1 por 2, omitir algumas coisas, não se comparam ao boicote (isso sim, boicote!) que houve durante a greve dos professores. 6 mil professores se tornaram 800, mais de 15 reivindicações sobre necessidades básicas para o funcionamento de uma escola, acabaram se tornando uma só; a salarial. E assim uma manifestação importante do estado de SP se tornou alguns gatos pingados chorando por um ‘aumento’.
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Foto da manifestação na Av. Paulista no dia 12/06
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E olhem só
como a coisa não mudou. Agora com os atos do passe livre, a imprensa passou
logo a fotografar e publicar SOMENTE as pontuais cenas de transgressão de
alguns manifestantes. Por que, em nenhum outro jornal eu vi uma foto mostrando
a dimensão e a organização que os atos estão apresentando? Por que somente
depois de 5 dias de divulgação negativa em massa e jornalistas covardemente
feridos, que alguns jornais mudaram o substantivo “vândalos” por
“manifestantes”? Por que será que, ao mostrar o “confronto” entre o choque e os
manifestantes, ninguém lembrou de falar sobre a tática do choque de bloquear as
transversais da paulista e atacar por trás? E os argumentos deprimentes de
alguns comentaristas que poderiam utilizar bem melhor suas habilidades de
oratória? BOICOTE SIM.
Facilmente
podemos encontrar no Youtube ou redes sociais vídeos feitos por manifestantes
mostrando atos completamente covardes por parte da polícia, incluindo um que
mostra manifestantes gritando em coro “sem violência”, desarmados, sem cometer
nenhum ato de infração serem agredidos com balas de borracha, bombas de efeito
moral, de gás lacrimogênio etc. O link segue ao final do texto.
Já não é
difícil encontrar nos círculos sociais, família e mesmo no trabalho uma maioria
de pessoas que além de apoiar os protestos tem uma boa percepção da diferença
entre o noticiário e a realidade. É animador ver que tem muita gente atenta aos
acontecimentos desta última semana.
E aí me vem
uma mente preguiçosa que encontrou no discurso Jaborniano um argumento pronto:
“a grande maioria dos manifestantes são filhinhos de papai, andam de carro, nem
precisam de ônibus”. Tá ‘serto’, como diria um famoso meme por aí. Começa que,
como foi que o seu Arnaldo descobriu a classe social dos manifestantes? Teve
algum censo? E desde quando que a classe média deixou de fazer parte da população?
Desde quando o transporte PÚBLICO é direito apenas de uma ou duas classes
sociais?
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Estação da Sé em um fim de dia ‘normal’.
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E novamente a
vozinha do Jabor no meu ouvido perturbando “vão procurar algo mais importante
para protestar, olha a PEC-37, a inflação, a alta do dólar”. Ai ai... Sendo bem
didática, como uma boa professora: Como alguém que se diz preocupado com o rumo
político deste país pode rejeitar completamente um movimento organizado, empenhado,
determinado e APARTIDÁRIO que já se tornou nacional, simplesmente porque julga haver
assuntos mais importantes? E há assunto mais importante agora do que a
população retomar seu poder político? Um país acordar de uma apatia de anos e
defender o que acredita? Isso é o que o senhor chama de ignorância política?
Afinal de
contas, PEC-37, copa do mundo, lamaçal do congresso são questões que dependem
desse nosso movimento. Logo, se essa fagulha apareceu, eu me recuso a jogar
água, pelo contrário, vou buscar toda a lenha que eu encontrar pelo caminho.
E não me
venham falar de partidarismo. Mania mais demodê
essa do brasileiro de acreditar que não existe outra posição política além de
esquerda e direita. Inclusive, eu já nem consigo identificar uma direita ou uma
esquerda nessa bagunça toda. Logo, saia do seu quadrado enquanto você não é o
último, senão um dia, ter essa polaridade política vai pegar tão mal quanto
usar suspensórios.
Eu poderia
aqui escrever mais um rio de palavras sobre a viabilidade da tarifa zero, mas
nada seria tão objetivo, claro e concreto do que a fala de Lúcio Gregori, ex
secretário de transportes de São Paulo, sobre sua proposta de tarifa zero na
cidade. Então, segue o link:
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| Porque ironia às vezes cai bem |
E para completar, mais alguns links interessantes:
Arnaldo Jabor me dando ânsia de vômito
Vídeo que mostra parte da agressão desmedida sofrida
pelos manifestantes (infelizmente só encontrei
no Facebook)
El Pais mostrando que sabe mais de nosso país que
os brasileiros
Movimento Passe Livre





Um comentário:
Ótimo!
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