domingo, 30 de setembro de 2012

Pré-cinema, imagem e catolicismo.




Em meados 1897 um padre e jornalista francês chamado Vincent de Paul Bailly (1832-1912) criou um projetor de cinema, o Immortel. Com claras intenções de apostolado católico. Vicent nasceu em 2 de dezembro de 1832 em Berteaucourt (Somme- França), o segundo de seis filhos Bailly. De acordo com o costume de sua comunidade, ele foi educado em Paris por dois tutores em casa. 
Em agosto de 1848 ele adentra ao curso de Bacharel em Letras. Em 1852 ele se juntou a administração de um telégrafo.
Em 1893 fundou e se tornou o principal editor do jornal Le Croix (http://en.wikipedia.org/wiki/La_Croix), na França, assim como contribuiu avidamente com inúmeras publicações e revistas, até seus 80 anos. Envolvido sempre em discussões com a igreja e com a política vigente, seu tom apocalíptico criou muita tensão nos meios intelectuais da época, moralizar o meio social era um de seus maiores objetivos.


Em relação ao cinema, ele dizia em 1903: “Por que motivo as grandes verdades cristãs não seriam, assim divulgadas, glorificadas como são nos vitrais, nos quadros, nas estátuas e nos afrescos?” (DEBRAY, 1992). Estratégia católica, apresentando-se, novamente, como espécie de deflagração iconográfica. O uso da imagem (em sequências cinematográficas), substituindo o culto religioso, lotava os locais onde eram realizados os eventos. “De um corpo divino que é em si mesmo matéria, podia, por conseguinte, ser feita uma imagem material. Hollywood vem daí, por meio do ícone e do barroco” (DEBRAY, 1992)
Padre Bailly não separava a pregação da figuração, que compõe uma longa história entre iconoclastas e idolatras, entre Bizâncio e o Catolicismo Apostólico Romano, com rescaldos que implicariam a Bauhaus ligada a um “prolongamento de um puritanismo reformado” (DEBRAY, 1992), onde o corpo é substituído pela geometria, pelo abstrato em uma clara referencia ao entendimento binário extremista de uma imagem ligada aos dois polos: Oriente e Ocidente. “Quanto mais uma cultura desconfia do corpo, maior é sua repugnância pela figuração” (DEBRAY, 1992).          
O entendimento do que é salutar em tudo isso (dessa ambiguidade da imagem), está perdido! Esquecido nos arcanos religiosos onde poucos tem interesse em chafurdar. Em tempos de crise, onde alguns fotógrafos e cineastas ainda discutem o que é fotografia tradicional e atual e estipulam valores em torno disso, gerando pupilos para viver e morrer nesse front, entre foto artística e não-artística, técnica e não- técnica, o substrato da imagem e sua ontologia vão se perdendo na escuridão e no reducionismo.   
A imagem a partir desse estatuto “arcaico” rompe esses preconceitos e estipula um “entre” como diria Raymond Bellour e nos informa que existe muito de passado no presente, na verdade, os dois se entrelaçam escondidos sob o véu digital ou analógico, pai do cinema e do comportamento visual que o cerca. Resta olhar para a escuridão, como diria Didi Huberman, a procura das pequenas luzes que teimam em nos encontrar, mas não nos acham.


Bibliografia e documentação disponível:

  • Lettre à la dispersion 1912, n° 172, p. 701704; n° 173, p. 705712; n° 174, p. 713720; n° 177, p. 733736.
  • L'Assomption 1913, n° 192, p. 36; n° 199, p. 116118; n° 203, p. 181183; 1914, n° 204, p. 58; n° 205, p. 2123; n° 206, p. 3638; 1914, n° 208, p. 6872; n° 211, p. 117119; 1960, n° 520, p. 332.
  • Pages d'Archives 1957, n° 5 et 1963, n° 1 et 2.
  • Notice par le P. MarieAlexis Gaudefroy.
  • Biographies du P. Kokel, 1943:
  • Lacoste (Baudouy), 1913,
  • Michel Guy, 1955;
  • Colette, 1957.
  • Lettres d'Alzon, t. XIII, 1996, p. 435436.
  • Catholicisme, I, col. 11651166;
  • D.H.G.E., VI, col. 265266;
  • D.B.F., IV, col. 13591361;
  • Echos d'Orient, XVI, p. 1627.
  • Pages d'Archives, mars 1957, n° 5.
  • Chronologie et luttes de presse par A Pépin (Castel), 1962.
  • Les écrits du P. Vincent de Paul ont été dactylographiés pour l'introduction de sa cause et forment une collection de 30 volumes (ACR).
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