quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Obscena



Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Davi Pantuzza, Erica Vilhena, Joyce Malta, Leandro Acácio, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano e Saulo Salomão, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra dos artistas plásticos Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.
Atualmente, o Obscena realiza seu projeto Corpos públicos, espaços privados: invasões no corpo da cidade em parceria com o CCUFMG, dentro do projeto Cena Aberta. Como parte da residência artística, mostras processuais de compartilhamento da pesquisa têm sido realizadas ao longo do ano. A próxima mostra está prevista para final de setembro. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 14 às 18 horas, na sala 03 do CCUFMG e, nesses dias, são realizados tanto experimentos práticos de invasão no corpo da cidade, quanto discussões teóricas e práticas corporais internas ao agrupamento.
A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.


Como o Obscena lida com a questão da localização de sua produção artística, no que diz respeito ao diálogo com a Performance, o Teatro, a Intervenção [Ocupação] Urbana e como estas fronteiras dialogam com a produção do grupo?
Acredito que fazemos e investimos numa prática cênica bricoladora com variadas formas de se fazer arte. Dialogamos com o teatro, a Performance, o vídeo, a literatura, a filosofia, a fotografia e a intervenção urbana. Uma produção híbrida, rizomática, fronteiriça, horizontalizada e muito pautada pelos interesses do agrupamento. Somos um agrupamento de pesquisa e a relação entre as inúmeras linguagens nos interessa muito.
Como se dá o processo criativo?
Por uma rede colaborativa na qual se cruzam desejos pessoais e acordos coletivos. Nos reunimos para leituras, discussões, práticas internas e ações e vivências na cidade. Também trocamos provocações em nosso blog, espaço no qual relatamos e refletimos sobre nossas pesquisas. Realizamos mostras de trabalho abertas ao público, convidamos pessoas para dialogarem com as pesquisas, enfim, o processo de criação está sempre em movimento e descoberta. Como numa rede, as pesquisas se interligam, se comunicam o tempo todo. Atualmente trabalhamos sobre a questão do espaço público, o poder, os corpos, e debaixo deste enorme guarda-chuva temático se abrigam diferentes abordagens de um mesmo assunto.
Como vocês enxergam dentro do agrupamento à relação Coletivo/Individual e a relação Cidade/Artistas?
Na questão coletivo/individual estamos sempre transitando entre esses dois pólos. Tentando achar um lugar de pesquisa e trabalho que se ligue nessas duas instâncias. Então é importante eu desejar algo individualmente e ainda assim levar isso para uma fricção com o coletivo. São acordos que fazemos quando decidimos investigar determinada temática. De alguma forma é o individual que alimenta o coletivo e vice-versa. Tem um diálogo aí também.
Já a questão do artista e sua relação com a cidade, acho que desejamos criar brechas nos espaços públicos. Tentar fazer da cidade nosso cenário expandido, criando ações e intervenções que provoquem as relações estabelecidas. A rua é um lugar de risco e me interessa muito atuar ali sem estar protegido pelo rótulo de artista. É uma invasão que busca ser “anti-espetacular”, e que pode tensionar as fronteiras entre realidade e ficção. Criando momentos de estranhamento, caos, e se possível, desordem.
Lembro-me que no ano passado propus ao agrupamento a prática de algumas ações que chamei de “exercícios de desorientação”. Experimentávamos por exemplo formar filas em lugares como uma faixa de pedestre, um poste, ou então filas para lugar nenhum. Enfim, filas em lugares os quais não se formam filas. Foi muito interessante ver a reação das pessoas. De alguma forma complicávamos a ação cotidiana das pessoas na cidade. O tecido urbano tem multiplicidades invisíveis, pessoas interessantes, lugares diferenciados, é um campo aberto, relacional, tenso e até mesmo poético. E na rua perdemos a autoria da obra, uma vez que o transeunte é convidado a atuar também. Na rua estamos em relação o tempo todo, nela uma ação artística se amplia, se transforma, ganha diferentes contornos..

(Belo Horizonte, Março de 2011).

Entrevista chupada do blog: http://www.obscenica.blogspot.com/

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