sábado, 7 de agosto de 2010

HORIZONTALIDADE E VERTICALIDADE DA CONTRADIÇÃO


Visitamos no dia 04 de agosto a mostra " Obrigação do Horizonte II … vista inevitável" do artista Bruno Vieira, no espaço Museu Casa das Onze Janelas. Bruno foi selecionado no Prêmio de Artes Visuais da SECULT nesse ano de 2010. Texto de apresentação da exposição abaixo.  


EM TORNO DA PAISAGEM




Ao se inserir no contexto contemporâneo, Bruno Vieira se utiliza dos mais novos meios tecnológicos de produção de imagens e de comunicação, sem se furtar da sua relação com um sistema impregnado de convenções herdadas e memória. É assim que estrutura seu trabalho frente ao corpo histórico da arte: ironizando, sem perder a poesia, os discursos e rituais de legitimação, e as engrenagens de seu sistema.
As estratégias de apropriação que decorrem do gesto inaugural do ready-made duchampiano se seguiram através de uma negação da representação na arte. Ao invés de enveredar por essa trilha, Bruno Vieira se apropria da própria representação, e nos fluxos das metáforas, tece sua poiesis. Um dos fios condutores de seu trabalho é a paisagem, grande eixo temático da história da pintura, dos afrescos antigos ao século XIX.

Na sérieVista inevitável (2008-2010), fotografias de paisagens naturais são impressas sobre persianas. Há uma referência irônica à janela renascentista, conceito do quadro perspectivado pelo qual se alicerça a paisagem. Fernando Cocchiarale assinala que “seu elemento estruturante tradicional, é nocaso, a razão de seu desmanche” – pois a imagem some na horizontalidade das barras da persiana.
Ao apropriar-se da temática da paisagem, Vieira desestabiliza o mundo cartesianamente ordenado, desconstruindo suas coordenadas: o eixo vertical desaba; o conforto das verdades ilusórias é erodido pela impossibilidade de um espaço perspectivado, euclidiano, imóvel, da herança renascentista, face à fugacidade do tempo e à espacialidade aberta, dispersa e expansiva das redes virtuais na contemporaneidade.
Renata Wilner – Profª Adjunta do Curso de Artes Plásticas do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística do Centro de Artes Comunicação – Universidade Federal de Pernambuco

COMENTÁRIOS NO DIA DA ABERTURA:

1. " Não podemos mexer nas persianas! Onde o eixo vertical desaba? se a ordenação cartesiana mental perdura, onde a abertura para a compreensão horizontal da obra?" 
2. "Onde a imagem some na horizontalidade se a fisicalidade que permite isso foi transmutada a regras e formalidades impostas pelo artista?"
3. "Talvez a referência a janela renascentista fosse mais mental do que formal, tipo: contemplação e ordenação. Então a idéia de espaço perspectivado permanece, pois a obra segue ditames de fixidez e intocabilidade."
4. "A razão do desmanche serviu a uma outra razão apenas: mercadológica. O que vai ser de minha obra depois dessa exposição? Novamente aqui, a mesma lógica incoerente da maior parte das produções brasileiras: o discurso instrumental dita o paradeiro da obra e os fruidores, o público e a relação com o objeto!? Não importam, e a perspectiva relacional negada".
5. "Mais um objeto de design, decorativo e tal....bem legal!!!"
6. Gostei muito do convite, achei que as obras iam naquele sentido, fragmentário, lapsos de imagens apenas...enfim, gostei"


 
SÓ PARA CONSTAR: 

 Bruno Vieira, 1976. Vive e trabalha no Recife, onde nasceu. É licenciado em Ciências Sociais, Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe, 1999), onde concluiu o curso de Educação Artística. Seus trabalhos incluem pintura, vídeo, fotografia, instalações e ações urbanas. Recebeu várias premiações. Em 2009, Prêmio

Secult de Artes Visuais, Museu Casa da Onze Janelas, Belém, PA, em 2006, ganhou destaque especial na Revista Digital do site da Bolsa Iberê Camargo; 3º lugar na Arte Pará, Fundação Rômulo Maiorana, Belém; Menção Honrosa no 5º Salão de Artes Visuais, MAC de Jataí, Goiás. Em 2005, recebeu o Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea, Funarte, Rio de Janeiro. Em 2004, ganhou o 2º lugar na Mostra Competitiva do Cinema Digital, Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Recife e foi selecionado como um dos três finalistas na Bolsa de artes visuais Kunstlerhaus Buchsenhausen Bursary-Unesco-Aschberg (Innsbruck, Austria). Em 2003, recebeu a Bolsa Pampulha, no 27o Salão Nacional de Belo Horizonte, MAP, Minas Gerais.

"de uma forma poética e que traduzam a passagem do tempo, e das relações travadas no espaço privado/ urbano/ virtual. Realizo um debate entre relações entre ‘o ser e o espaço / o espaço e o ser’ e assuntos sociais”




Link do artista: http://brunovieira.multiply.com/video/item/3

3 comentários:

Amanda Jones disse...

Quem viu a imagem do convite viu a exposição...

Anônimo disse...

E todo mundo saiu da sala com um "mas" na ponta da língua

Bruno Cantuária disse...

Alguns "mas, poréns, humm..., sei não, bacaninha, legalzinho, mais ou menos". Acho que esse meu xará tem que rever o trabalho todo.