segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Oscar 2015 - Segunda Parte



Mais uma leva de filmes indicados está chegando aos cinemas. Para variar, uns muito interessantes, outros bastante irregulares. O Oscar, cerimônia bastante alienada em seu eixo quase sempre americano, não consegue não mostrar suas fragilidades com suas seleções.
No segundo post sobre o Oscar 2015, irei tratar de mais algumas destas obras, tentando marcar um olhar pessoal. Gostaria que outras cerimônias, já mais inclusivas, multiculturais, tivessem um poder semelhante de difusão (ou massificação). Como não há tal caso, voltemos para o que se tem e pensemos com perspectiva tais produtos.


06 – O Jogo da Imitação, de Morten Tyldum:  este filme segue passos semelhantes ao do novo cinema inglês acadêmico (e aproximações com o formato de dirigir de Tom Hooper, de O Discurso do Rei são muito claras). Todavia, para além de questões técnicas formais (com destaque para a trilha sonora de Alexander Desplat, também compositor da excelente de O Grande Hotel Budapeste e de Invencível , e lembro ainda hoje de A Hora mais Escura, outro trabalho seu marcante), o conteúdo denúncia é muito pertinente.
A história é simples: um grupo de descriptadores e matemáticos trabalham secretamente para desvendar um código alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Benedict Cumberbatch está preciso, e Keira Knightley ajuda a marcar o tom de suspense e tensão psicológicos. Entretanto, este era um período de perseguição, prisão e castração química para todo e qualquer homossexual na Inglaterra. E como certas histórias não podem ser silenciadas, mas aguardam um momento distinto para serem recriadas/ contadas, o personagem de Cumba (o famoso matemático e criador do primeiro computador, Alan Turing) sofre na pele outro tipo de perseguição perpetrada não pelos nazistas (os “maiores” vilões da história da Segunda Guerra) contra os judeus, gays e outras minorias, mas pelo lado “bonzinho e sofredor” dos aliados. É terrível que uma série de outros atores sociais não tenham merecido lugar até uma história mais recente (e bora combinar, nem hoje ainda recebem neste mass media ocidental).
Espero que muitos sintam a revolta para com estas denúncias do filme. O transformador desta película crítica e política se comprovou ainda mais quando o seu elenco e a sua produção requereram, em nota oficial, um pedido de desculpas, da própria Rainha, para com os crimes perpetrados pelo seu país contra mais de 40 mil homossexuais na Inglaterra.


07 – A Teoria de Tudo, de James Marsh: outro filme inglês, outra cinebio acadêmica. O que eu posso falar? Eddie Redmayne não interpreta Stephen Hawking, ele é Stephen Hawking. Sua performance é tão poderosa, e isso vindo de um ator jovem, que a sua própria esposa na história, interpretação da atriz também indicada ao Oscar Felicity Jones, é ofuscada. Cada momento do ator em tela é bem pensado. Sua humanidade e fragilidade constroem uma grande interpretação masculina para o cinema.
Quanto a outros aspectos, acredito que não há necessidade maiores de falar sobre. O filme trata da vida do famoso físico na juventude, em alguns de seus estudos e na batalha feroz contra sua doença degenerativa.  Nesse sentido, um ponto interessante e revelado pela obra é a falta de reconhecimento que Hawking deu a sua esposa, já que esta abriu mão de sua vida para viver a de seu marido. A trilha sonora, por outro lado, ganhadora do Globo de Ouro, é a favorita para a cerimônia (e eu fico de coração dividido entre ela e a de Grande Hotel Budapeste).


08 – Caminhos da Floresta, de Rob Marshall: aqui encontramos um filme bastante problemático. Marshall tem estabelecido uma carreira muito voltada à questão dos musicais (já ganhou o Oscar por Chicago, excelente filme, mais por conta de toda sua relação e realidade com a produção do magistral Bob Fosse; ao passo que, junto de Nine, traz outro filme do gênero irregular, para não dizer de péssima qualidade). Neste título, o diretor se perde novamente com um roteiro bagunçado, uma montagem confusa e, às vezes, acelerada, com cortes abruptos, e um elenco de personagens muito grande que, infelizmente, acaba sendo subaproveitado durante as enormes 02 horas de duração.
Do que trata? É uma miscelânia de histórias infantis (Cinderela, João e o Pé de Feijão, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel), com uma carismática Emily Blunt (para mim, ainda mais interessante que a sempre excelente Meryl Streep) e outros atores bastante desconfortáveis em seus papéis (Chris Pine, Anna Kendrick e Lilla Crawford são os mais fracos, sem falar na aparição incoveniente de Frances de La Tour). Por sinal, Streep recebeu sua 19 indicação ao Oscar. As canções são diversas – umas legais, outras esquecíveis -, enquanto que determinadas piadas são bem espirituosas, sobressaindo-se em meio a uma obra cansativa e sem ritmo. E nem acho que o figurino, indicado ao Prêmio da Academia, seja lá destacável.


08 – Invencível, de Angelina Jolie: Mrs. Jolie, realmente, está mudando sua atução. Este seu segundo longa na direção é um veículo feito para enganar marinheiro de primeira viagem, que não se toca no quanto determinadas mensagens perigosas podem ser distribuídas pela indústria de massa.
Invencível, uma produção megalomaníaca e petulante, trouxe os irmãos Cohen no roteiro, um elenco gigantesco a lá Cecil B. DeMille (com atuações certas, concordo, principalmente a do protagonista Jack O’Conell), Alexander Desplat na trilha sonora, Roger Deakins na linda fotografia (diretor de fotografia de Onde os Fracos não tem VezSkyfallSoldado AnônimoFargo, dentre outras obras excelentes)  e, como cereja no topo do bolo, Coldplay na canção tema (vamos combinar, esta bandinha pasteurizada deveria ter encerrado sua carreira após o seu segundo álbum – tenho uma verdadeira dificuldade com o tom meloso e cafona do Chris Martin). E claro, isto é um resumo da produção sem fim que trabalhou no título (basta acessar o site do IMDB para conferir)
A história, a qual trata das desventuras de um soldado americano na Segunda Guerra, ex-medalhista olímpico, sobrevivente a uma queda de avião no pacífico, com consequente deriva ao mar, e mais um período de encarceramento em um campo de prisioneiros japonês, é um erro por completo. Primeiro, a trama é binarista ao extremo – japoneses são vilões irredutíveis e americanos sofrem, são boa gente, pacifistas, mas que coitados. Segundo, o filme cria uma justificativa implícita até para o uso das bombas nucleares. O simplismo do filme é tão grande que surpreende pelo seu alto teor preconceituoso. Mrs. Jolie, protetora dos oprimidos, a senhora mostrou sua face mais sombria.

John

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