terça-feira, 15 de outubro de 2013

@s professor@s

Hoje é oficialmente em nosso país o Dia dos Professores.

O que fazer com essa informação?

Que validade essa data comemorativa efetivamente tem?

Ser professor ou professora no Brasil é motivo de angustia e alegria. Essa alegria deve-se unicamente aos sujeitos que, no meu caso, vão a escola cheios de vontade de viver aquela experiência que pode estar na brincadeira ou na feitura de um exercício, que aos poucos vão descobrindo palavras e significados para seu próprio mundo e se encantando com isso, e encantando a todos com suas próprias descobertas tão sinceras.
Mas a angústia muitas vezes, infelizmente, parece ser maior. Pois muitos são os outros sujeitos já formados - ou como diria minha avó "mal-formados" - que tratam essa escolha em ser professor ou professora com desprezo, pesar ou pior com soberba.
Por esses motivos acredito muito no que Saramago (2013, 19) diz: "Instruir é, obviamente, transmitir conhecimentos acerca das distintas matérias que estão no programa; educar é, segundo o dicionário, dirigir, encaminhar, doutrinar, e os professores, tenho de dizê-lo, ainda que isso possa incomodar alguém, não estão lá para educar mas para instruir, não podem educar porque não sabem e porque não tem meios para fazê-lo. Para instruir sim, para isso receberam o encargo da sociedade, que lhes proporcionou os meios científicos, as ferramentas adequadas e os programas pertinentes, o necessário para transmitir um nível de conhecimentos que permita aos alunos progredir técnica e científicamente na sociedade."
Mas acredito também que podemos e devemos mudar essa condição de meros instrutores no dia-a-dia, na busca pela (re)ligação dos diferentes saberes, na luta pela construção de uma verdadeira democracia.

Esses são apenas alguns desabafos/reflexões sobre a real validade dessa "data comemorativa!?". Abaixo deixo outra reflexão do colega Valter Machado Fonseca que chegou essa mesma manhã a minha caixa.

Abç a tod@s
Adriele Silva da Silva
Em: 15.out.2013

Dia do professor: o que temos a comemorar?
Valter Machado da Fonseca*
Neste dia 15 de outubro comemora-se o dia do professor. Mas, aqui cabe a indagação: o que comemorar? É com tristeza e decepção que refletimos sobre nossa profissão e chegamos à desoladora conclusão que não temos nenhum motivo para qualquer comemoração.
A profissão docente tem sido enxovalhada, colocada em segundo plano, enquanto a educação tem sido, sistematicamente, transformada em mera mercadoria a serviço do lucro. É notório que toda a sociedade passa, necessariamente, pela escola e, consequentemente, pelas mãos dos professores. No entanto, esta honrada profissão é humilhada, subjugada, como se fosse um mero acessório, um bem descartável a serviço da reprodução do capital. Os governos e os “especialistas” dos currículos das escolas, em todos os níveis, vêm substituindo os conteúdos necessários para a compreensão do mundo, para o enfrentamento da vida, por valores superficiais e/ou meramente técnicos.  A escola tem sido transformada em mais uma ferramenta que serve apenas para capacitar para o mercado de trabalho. É a “lógica” da técnica substituindo os valores humanos. Esta é a escola do século XXI que se preocupa com a formação dos sujeitos apenas para saciar a ganancia da mais valia e não para prepará-los para enfrentar sua aventura maior: o mundo, a vida.
Por isso as disciplinas que tratam das ciências humanas, como a Filosofia, Geografia, Artes, Antropologia e a Sociologia, dentre várias outras, têm sido relegadas a segundo plano. As disciplinas que tratam dos valores humanos são perigosas para os detentores do poder político, pois elas ensinam os sujeitos a pensar e, ao capital, aos donos do poder não interessam formar sujeitos pensantes, pois estes vão questionar seu poder, sua “justiça”, seus valores hipócritas, oriundos da sociedade do consumo e do culto ao supérfluo, ao descartável. Trata-se da relação saber/poder, conforme enfatiza Michel Foucault em sua “Microfísica do Poder”.
Dentro desta lógica, a profissão docente é subjugada aos anseios dos donos do poder. A eles interessam a formação de professores que não pensam, não questionam. Interessam a eles formar professores “enlatados”, “enquadrados”, “acomodados” dentro de seus projetos de perpetuação do modelo de reprodução do capital, de manutenção do status quo da ganancia exponencial da mais valia capitalista. Seguindo esta lógica, a formação de professores para atender uma educação que, a cada dia mais, se transforma em mercadoria, também têm que se submeter aos salários aviltantes do mercado da “indústria do vestibular”, dos governos capituladores, ou dos grandes grupos inter/multi/transnacionais que tomam conta das escolas e das universidades brasileiras.
Por fim, neste dia 15 de outubro, mesmo não tendo o que comemorar, fica o convite aos colegas professores: vamos partir para uma séria reflexão sobre a nossa prática em sala de aula e nossa profissão. Faz-se urgente que ergamos a cabeça e comecemos a olhar a escola para além de seus muros, repensando seu papel social. Faz-se urgente que entendamos nosso papel enquanto sujeitos formadores de valores éticos, morais e de sujeitos que podem ser agentes, cidadãos transformadores da dura realidade socioeconômica e cultural em que vivemos. É urgente que percebamos qual é o nosso relevante papel, no interior de uma sociedade cada vez mais carcomida, deteriorada pela imoralidade em todos os níveis e que caminha, a passos largos, para a barbárie. Vamos passar a limpo nossa profissão e a escola no Brasil, visando à formação de sujeitos que sejam agentes de transformação social, ao longo de um processo histórico e cultural. 






* Escritor, Técnico em Mineração, Licenciado em Geografia, Mestre e doutorando em Educação pela Universidade pelo Programa Mestrado/Doutorado da Faculdade de Educação da Federal de Uberlândia (PPGED/FACED/UFU/CAPES).

Nenhum comentário: