segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Dica NOVAS MEDIAS de Filme: O Som ao Redor





Chegou nas locadoras, para quem não conseguiu pegar nos cinemas, o filme pernambucano "O Som ao Redor", dirigido por Kleber Mendonça Filho. Este título, indicado brasileiro para concorrer por uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é uma das mais certeiras produções nossas dos últimos tempos, e, provavelmente, um dos melhores filmes do ano, aqui, para o NOVAS MEDIAS.

O longa metragem de Mendonça Filho, cheio de costuras metalinguísticas, quando o próprio som e o silêncio ganham ares protagonistas, deixa visível e problematiza os males das cidades urbanizadas da América Latina: as suas ilhas-condomínios, constantes em todas as nossas metrópoles, construídas irregularmente na paisagem urbana, sem qualquer sentido de integração visual e arquitetônica, refletem o caos da segurança pública, a deseducação visual das construtoras e a violência inesperada às soltas pelas ruas.

De certa forma, nós, presos nesta rede de cidades-neuroses, podemos sim reconhecer no filme e nos seus personagens, os quais contratam uma equipe de segurança de ruas para lhes prestar serviços, como somos reféns de nossas naturezas no concreto, no meio do tráfego barulhento, dos outdoors visualmente cancerígenos, de maneira a  inverter a lógica do quem é prisioneiro e quem não é; do quem é a necrose e quem não é.

Não, não é todo dia que conseguimos ter a chance de nos sensibilizar com um trabalho cinematográfico tão bem resolvido conceitualmente, ainda mais com essa overdose de produções canhestras da Globo nos empurrando uma qualidade duvidosa e cheia de fórmulas pasteurizadas todos os dias. Lembre-se, com esta película em questão, e seus ótimos atores, a edição inteligentíssima, a direção de arte surpreendente e um roteiro nada menos que instigador,  que é possível acharmos o tal do cinema para se ter prazer de ver, do começo ao fim.

Eu, pessoalmente, tenho sentido tanta falta de mais produções como esta. Nossa...! E o pior é que diretores como Marcelo Gomes, Karim Aïnouz, Sérgio Machado, só para citar alguns contemporâneos de produtividade sofisticada, ainda tem de combater incansavelmente, mesmo com suas qualidades cinematográficas tão claras, para produzir mais trabalhos em nosso mercado frágil e cheio de feroz publicidade.

Que façamos nosso papel, então. Divulguemos e procuremos consumir nosso cinema. O cinema brasileiro deve mostrar sua cara.

John Fletcher

3 comentários:

Anônimo disse...

Ansioso pra assistir a este filme. O texto esta prefeito.
Meu computador simplesmente nao esta acentuando as palavras.
Marcelo Biz

John Fletcher disse...

Obrigadíssimo, Marcelo. :D

Não perca esse filme. Ele sim é perfeito.

Anônimo disse...

Ainda não vi esse filme, valeu pelo texto Jonh, realmente, às vezes o preconceito fala tão alto em relaç ao cinema brasileiro, q só perdemos com isso.

Ricardo M.