terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ENTREVISTA - Danielle Fonseca


Nossa entrevistada desse mês de dezembro de 2012 é Danielle Fonseca. Artista visual paraense, poeta e surfista. Danielle nos concedeu essa entrevista e nos falou sobre seu processo de criação, suas influências artísticas e sua relação com a prática do surf. Entre a poesia a literatura e as artes visuais a artista traça seu percurso desde 1996 tendo em sua carreira  participado de diversas exposições e salões, dentre as principais: “Sobre Ilhas e Pontes” – Galeria Cândido Portinari (Rio de Janeiro-RJ/2010); “FOTORIO 2009” – Espaço Oi Futuro (Rio de Janeiro – RJ/2009); 8º Salão de Artes de Jataí (Jataí-GO/2009)    


"O Tao caminho" (registro de ação) 2005. Marau PA 2005.

1.Fale-nos um pouco de você. O que gosta de fazer, aonde gosta de ir?
- Gosto de sair para conhecer novos lugares, de viajar, de ver o pôr-do-sol, de ler, de tomar café da manhã em padaria, de escrever, do meu gato Sidarta (rsrs).

2.Quando começou o seu envolvimento com as artes visuais?
- Por volta de 1997, uma amiga minha (Andreza) viu meus poemas e disse que era para eu me inscrever no ‘Salão Primeiros Passos do CCBEU’ e deu certo, fui selecionada e não parei mais. Ou seja, na verdade comecei escrevendo, mesmo que visualmente.

O Tao caminho (registro de ação) Marau PA 2005.
3.Quais são suas principais referências em artes visuais?
- Gosto de muitos artistas, Carmella Gross, Brígida Baltar, John Cage, Max Martins, Oriana Duarte, Mira Schendel, Cildo Meireles, Luiz Braga, Keyla Sobral, Ligia Clark. Acho importante dizer que uma exposição que me marcou foi do grupo da Caixa de Pandora aqui em Belém, mudou minha visão a respeito da fotografia, não lembro o ano, acho que foi em 1995. As fotos da Cláudia Leão me impressionaram.

O destino da palavra. 2008 
4.Como se dá o processo de criação de suas obras?
- Bem, posso dizer que muito de processo de leitura, pesquisa, observação, demoro um pouco para maturar uma obra, ou o começo dela.Mas, não há uma fórmula.
Tuas Cartas, série “Rumo ao Farol” 2007

5.Sua produção artística flerta bastante com a literatura e a poesia. Fale-nos um pouco a respeito disso.
- Acredito que tudo está interligado, a literatura, a poesia com as artes, pelo menos em mim, é uma coisa só. Comecei como disse anteriormente, escrevendo, ou pelo menos com aquela vontade mágica de querer ser escritora/poeta, enfim, vez ou outra ainda quero (risos). Mas, a literatura abre meu imaginário, me leva como diria Guimarães Rosa, a ‘horinhas de descuido’ e criação.
Tuas Cartas, série “Rumo ao Farol” 2007
6.Você considera que o seu trabalho de alguma forma se relaciona com a linguagem da performance?
- Até digo que não, mas apenas por ser uma linguagem artística da qual não domino muito e admito, mas há sempre um ato performático em algum ou outro trabalho, principalmente no das caixas de correspondências, mas prefiro as performances sem plateia, típicas das land arts.
Filme "A Vaga". 2011
7. Há pouco tempo você lançou um filme, parte também de sua produção em artes visuais, chamado "A Vaga", um filme que mistura filosofia e surf, das ideias do filósofo Gilles Deleuze à prática do surfista Rico de Souza. Fale um pouco a respeito de como esses temas se interligam.
- Esse filme, veio também através de um texto, a artista Keyla Sobral me apresentou um texto chamado “Deleuze: O surfista da Imanência” do filósofo Daniel Lins, e achei aquilo tão absurdo quanto incrível, surf e filosofia juntos, duas práticas que gosto profundamente. Fui pesquisar a respeito e encontrei um universo inteiro de informações, de pessoas que pesquisam essa relação, escritores ... Dai escrevi um roteiro, pois era tanta informação que tinha que a princípio ser algo documental. Depois procurei pessoas que tinham essa relação/pensamento e convidei o Rico de Souza, que é de uma gentileza e elegância incríveis, o filósofo Charles Feitosa, os escritores Alberto Pucheu e Felipe Stefani, o músico João Donato, tentei fazer uma rede de afetos entre o surf (esse fluir), as artes e a filosofia.  Esses temas se interligam de maneira até natural, desde o ócio criativo até a questão de serem seres à margem, não mais de marginalidade, mas no sentido de seres que vivem em torno ou nas bordas de criação, de baldeação, no sentido de ‘trafegar em líquidos’, como diria André Monteiro, em coisas híbridas.

Frame do filme "A Vaga" 2011
8.A água está sempre presente de uma forma ou de outra em suas obras. Fale um pouco sobre isso.
- Sinceramente, não sei explicar muito, mas acredito que a água esse elemento, está presente na minha vida e imaginário desde a infância quando comecei a nadar por questões de saúde e fiz isso muitos anos da vida; talvez tenha haver com acompanhar as idas e vindas de meu avô Carlos, que era comandante da marinha mercante, aqueles uniformes brancos, anéis de âncora, cartas náuticas, um mundo incrível e muito particular; e dai aos 13/14 anos veio o surf.

Extracorpo (base mágica para o artista quando surfista) 2012.
9. E você ainda surfa? Quais são os melhores locais no Norte para a prática?
- Ainda (risos), todo surfista assim como o artista é um resistente. Temos lugares incríveis aqui, como Salinas, a Ilha do Mosqueiro tem a praia do Farol, a do Paysandu (no Marahu), além das pororocas.

10. Qual sua impressão sobre o cenário atual das artes visuais contemporâneas em Belém?
- A melhor possível, acho que Belém é a atual ‘menina dos olhos’ da arte contemporânea nacional, mas gosto de pensar que seja no sentido de formação e firmação neste cenário, nossa produção é muito rica e diversa, a tendência é de consolidação e reconhecimento creio.

11.Você pode falar um pouco sobre a inserção da sua produção no mercado de arte?
- Atualmente trabalho com a Kamara Kó Galeria, que representa parte de minha produção, ligada a fotografia e registro de ações. 

Mais informações: 
http://kamarakogaleria.com/site/?page_id=197
http://ricosurf.globo.com/noticias/surf/arte-pranchas-de-surfar-ou-esculturas-de-usar/

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