quarta-feira, 3 de outubro de 2012

CAVALETE PARADE (29.09.2012) SÃO PAULO

Muitas vezes nós profissionais (independente da área de atuação) tendemos a buscar tanto o reconhecimento por nossos esforços que por vezes esquecemos o real objetivo do nosso trabalho. Enquanto que muitos artistas das mais variadas linguagens estudam e se empenham por inteiro na busca do “ser artista”, outras pessoas, longe das pretensões de rótulos pomposos, sensivelmente se permitem criar o estopim de reflexão do qual Bachelard tanto falou. Como?





Neste fim de semana, a famosa avenida Paulista transformou-se em um novo e diferente espaço de exposição. Um evento que surgiu do puro sentimento de revolta e da necessidade de retomada do espaço perante a invasão infame de cavaletes com números, sorrisos e abraços de – na falta de outra palavra, asquerosos – políticos.

Utilizando da ironia, de mãos dadas com as leis, e via facebook, dois amigos - Marco é publicitário e Victor diretor de arte - pretendiam reunir alguns amigos no vão do Masp, com alguns cavaletes modificados em um pequeno protesto bem humorado. Porém, devido a simplicidade encantadora do projeto e a facilidade de troca do Facebook – mais de 11 mil confirmados no evento do site - o evento acabou se expandindo pelo país ( acontecendo em cidades como Rio de Janeiro, Florianópolis, Belo Horizonte, Curitiba, Campinas, Porto Alegre, Salvador e Recife) com participação inacreditável de pessoas completamente distintas umas das outras.

Veganos, geeks, ateus, estudantes, grafiteiros e até mesmo artistas utilizando-se de uma mídia imposta para expressar quaisquer pensamentos, ideias, reflexões ou o que lhes interessassem.

Uma mídia completamente livre, só bastava você encontrar um cavalete de político irregular – o que não foi uma dificuldade – dizer o que pensa em uma imagem ou mesmo estrutura mais complexa e levá-lo à avenida paulista. Pronto! Sua voz já podia ser ouvida!

A inversão do sentido no veículo midiático do cavalete talvez seja o ápice deste ato; o objeto que antes propagava intenções duvidosas de quem se diz representante do povo, agora era símbolo do descontentamento deste povo com estas figuras, e ao mesmo tempo refletia com um ar sincero e espontâneo os principais anseios dos participantes. E não se espantem ao lhes dizer que a grande maioria das imagens preferia homenagear a vida, defender o amor, compartilhar ideais, satisfazer os olhos. Afinal de contas, ninguém estava ali para provar seu grau de instrução política ou artística, mas sim para fazer parte de um coro tentando ser ouvido.

Conversei com alguns dos participantes e também – rapidamente – com os dois idealizadores do evento e percebi que não havia realmente nem por parte dos participantes nem pelos organizadores uma intenção maior; não haviam pretensões. Apenas a vontade unida à necessidade. E é esse clima de espontaneidade deste ato que sinto falta quando visito exposições de Arte.







Para mais informações:

Cavalete Parade Facebook

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