sábado, 19 de maio de 2012

Os laços do pensamento



   




O pensamento não tem lugar, ele deriva de todas as paragens, nasce das dobras de qualquer circunstância, da invenção de um conceito ou do exercício do próprio pensamento. Pensar significa dar funcionamento às coisas, deslocá-las ou atravessá-las com significados outros, pensamentos outros. Segundo Daniel Lins, o pensamento-outro engloba o plano de imanência, ou seja, a possibilidade de pensar o impossível, de pensar o impensável: “o plano de imanência é ao mesmo tempo o que dever ser pensado e o que não pode ser pensado. Ele seria o não-pensado no pensamento”.  Com efeito percebemos que no pensamento-outro se prolifera mais do que a agregação das diferenças, a duplicidade dos entendimentos, ou melhor um pensamento ainda porvir, exterior ao próprio pensamento.  Michel Foucault, em o Pensamento Exterior, nos traz importantes pistas nessa direção: é preciso passar para “fora de si”, se envolver e se recolher na fascinante interioridade de um pensamento que é legitimamente Ser e Palavra.  Mergulhar na superfície de um pensamento legitimamente Ser e Palavra significa liberar-se das reminiscências, quer dizer do monolítico e da tensão que ela representa, pois esse pensamento, Ser e Palavra, se mantêm fora de qualquer subjetividade para dele fazer surgir os limites como vindo do exterior, enunciar seu fim, fazer cintilar sua dispersão e acolher apenas sua invisível ausência, e que ao mesmo tempo se mantém no limiar de qualquer positividade, não tanto para apreender seu fundamento ou justificativa, mas para encontrar o espaço em que ele se desdobra. Nessa esfera pensar é um ato de vitalidade, é essencialmente afirmativo, é uma forma de ver a vida e o que passa através dela, é um verdadeiro caso de possível, de interpretação, pois interpretar equivale a criar, a maneira do jazz, interpretar  interpretações, e com isso, como nos diz Deleuze: modificar as coisas “mudar a vida”.. Portanto, pensar é, sobremaneira, um ato de interpretação, logo, de criação.  Pensar é dar velocidade ao pensamento pensando as coisas que nos afetam, seja em matéria de literatura ou do que for. Assim encontramos Maurice Blanchot, como uma Maquina de Possível, escrevendo, interpretando, pensando, gerando pensamentos outros.


Por Nilson Oliveira – [post por NADA Teerã]
 

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