quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Talvez Um Filme Por Dia: Dia 4# O segredo dos seus olhos

Uma boa crítica feita no blog Talvez Um Filme Por Dia para o filme "O segredo dos seus olhos", o qual estará passando no Cine SESC Boulevard nesse sábado 14/01, às 16h. Imperdível!
Boa leitura!

Salve salve!

Meu primeiríssimo comentário do blog vai para - aaah! - O segredo dos seus olhos (El Secreto de Sus Ojos)do argentino Juan Campanella. Para começar fui pega de surpresa ao assistir o filme, primeiro porque a intenção era assistir outro filme – e que bom que pude assisti-lo – e segundo, porque este filme foi para mim, uma doce surpresa. O filme é baseado no LivroLa Pregunta de Sus Ojos do também argentino Eduardo Sacheri, fala de paixão e tem como pano de fundo, uma investigação sobre o estupro e assassinato de uma jovem professora chamada Liliana Coloto, no contexto da ditadura militar argentina.
Tal assassinato liga de diferentes modos os sentimentos dos principais personagens da trama. É o protagonista, Benjamim Esposito que talvez mais reflita sobre este acontecimento, afinal ele é quem investiga o caso, a procura do assassino. O interessante, é que suas descobertas partem de um olhar. Olhar este que acabou revelando não só uma paixão nutrida por Liliana, mas inclusive o principal suspeito de sua morte. Esposito, ao observar o álbum de fotografias da jovem, acaba percebendo que um rapaz sempre estava olhando para a moça em todas as fotos que pareciam juntos. Assim começa sua procura incessante por Isidoro Gómez.

E misturado à tensão policial, o filme exibe uma paixão contemplativa e doses na medida certa de humor, garantidas principalmente pelo amigo de trabalho e nas horas vagas, bêbado, Pablo Sandoval. É ele que - dentre as muitas reflexões que o filme apresenta – puxa o fio da meada a procura de Gomez. Sandoval nos faz pensar sobre os muitos tipos de paixões que se pode ter, seja por um time de futebol, por um objeto ou uma pessoa, mas que somos todos movidos por algo que momentaneamente nos realiza, que nos marca, nos identifica. E seja qual for à mudança que a vida se encarregue de oferecer, sempre teremos esta paixão, sentida de forma intensa ou escondida, porque, por vezes a tememos.


É o caso da paixão correspondida, embora não concretizada entre Esposito e Irene Hastings – juíza da Corte Penal Argentina - apaixonados a vida toda, sendo através do olhar que puderam manifestar seus mais sinceros e receosos sentimentos. Destaco o personagem de Irene, pois além de ter gostado muito, denota a postura de uma mulher forte, segura e determinada, cuja fragilidade está na espera. Espera que Esposito demostre seus sentimentos e que tenha motivos suficientes para fazê-lo desistir de casar com outra pessoa. No entanto, ele nunca o fez. E quantas vezes nós mesmos não esperamos por uma atitude de alguém? Ainda mais se for uma paixão. É realmente, um filme doce. Doce de se ver.


Para os aflitos – como eu – que desejam que estes sentimentos sejam revelados e consumados, há seu lugar especial na narrativa, seja pela despedida ou reencontro. Paira uma angustia na cena em que Esposito se despede de Irene na estação de trem e ficamos como ela, atônitos e sem acreditar no que vemos. E devemos lembrar que existe um crime e ele se desenrola buscando sua resolução.A trama, não somente se prende nestas nuances amorosas, mas aborda assuntos voltados a injustiça e vingança.

Injustiça que será atribuída à condenação de Gomez pelo assassinato de Liliana - emprestando a velha e conhecida frase brasileira aos argentinos “a justiça é cega” – e pouco tempo Gomez permanece preso, mantendo-se protegido pelo colo da ditadura militar da época.E como não se pode deixar de falar, a vingança, onde o marido da jovem Liliana, Ricardo Moralles, ao longo de quase 25 anos alimenta pela perda brutal de sua esposa, e através de seus diálogos com Esposito, permite que pensemos qual o valor da pena de morte e até que ponto ela pode ser válida para quem condena – no caso o marido - e quem está condenado. Com certeza, sua reflexão sobre o caso, não nos deixa nem perto da surpreendente cena que vamos descobrir juntamente com Esposito, que a paixão pela esposa o fez agir - a sua maneira - da forma que lhe parecia justa lembrar a morte de Liliana.


E assim, ao longo de 127 minutos, somos movidos pela paixão de olhar este filme, nos deparando com reflexões sobre a morte, as paixões de diferentes modos, a vingança que está relacionada as injustiças de uma sociedade que preferia ter um assassino livre a um subversivo politico. E claro, os amores... Que mesmo temido, podem acontecer.

Vale lembrar, que este filme ganhou o Oscar de Melhor filme Estrangeiro em 2010.
Postado por Ana Magritte

Nenhum comentário: