Entrevista com um marginal

Cada vez mais na cidade de Belém, assistimos com grande afã o aparecimento de artivistas, críticos e libertários que passam noites a fio, dedicando suas insônias a esse mundo tão carente de revolução, dormem nas praças, tentando se sentir um Oiticica bandido. Imaginam que a Arte poderia ser mais do que já é, se ela saísse da galeria e dos salões para, assim, se dedicar as dores do mundo, e a problemática do capitalismo que mesmo em colapso, ainda faz muitas vítimas nesse planeta.

Bom, conversamos com um desses artivistas e gravamos tudo em um MP4, chamaremos o entrevistado de VP, que fez questão de não se identificar, por receio de ser alvo de represália em meio a seu grupo.

NM – Oi, td bem?
VP – Oi, td bom.
NM – Diz aí, tô te vendo meio angustiado, meio amargurado, a que se deve isso?
VP – Olha, pra início de conversa, te digo que só tô aqui por que tô puto com umas estórias aí e não vou citar nome de ninguém e não adianta achar que só porque topei isso, deixei de acreditar em uma realidade menos mercadológica pra arte.
NM – Ok, sem problemas. Mas, diz pra gente, contra que tu te rebelas?
VP – Não me rebelo, apenas me uno a outras pessoas que também estão insatisfeitas como a forma como tudo está, no campo das artes e da política. Acredito que podemos fazer mais e não apenas nos vender para uma elitizinha que patrocina salões e oferece chazinho pra artistas.
NM – Hum, sei. Quantos anos você tem?
VP – 25 anos.
NM – E em que momento teve contato com esse tipo de idéia, quando te veio em mente que tu podes fazer a diferença?
VP – Teve uma época que eu expunha meus trabalhos em galerias...
NM – Ah, olha, que interessante.
VP – Daí eu vi que alguma coisa estava errada, eu não estava feliz.
NM – Ah, é? Sabemos que você participou de vários salões de arte, mas, não conseguiu entrar no ARTE PARÁ.
VP – Pôrra nenhuma!! Eu quis sair desse sistema por livre vontade, quis sentir o cheiro das ruas, lembrar da Falange, da Gang do Subúrbio: um abraço Pif!! Abraço Plebe!!! Sentir o cheiro decrépito dos esgotos e o cheiro do ralo.
NM – Um lance assim meio Bob Cuspe?
VP – Quem é Bob Cuspe?
NM – Bom, deixa pra lá. Então, tens um forte vinculo com o underground? Não achas que ele está hoje mais pra udigrudi?
VP – Mas, é essa a questão. Tudo virou mercadoria, inclusive eu e você, tudo se compra , é uma merda.
NM- Hum, mas, vendes um ideal e esperas que o outro o compre, isso não é meio alienante também?
VP – Claro que não! Se é para o bem dele, se é para retirá-lo da alienação.
NM – Você é meio radical, deve ser difícil andar do lado de gente que não pensa como você, não? Tipo, você é daqueles que não adicionam “artistas de galeria” no Facebook?
VP – Olha, tenho umas amigas que são assim, elas tem preconceito mesmo, fodam-se os artistas de galeria.
NM – Preconceito não escolhe ideais né?
VP – Pode ser.
NM – Não soa meio contraditório lutares pela liberdade e conscientização dos outros e não dar direito de liberdade de escolha a algumas pessoas?
VP – Sabe, tenho alguns amigos que tem problemas em casa, com a família, problemas monetários e de saúde, e descontam em algum Judas. Nesse caso, acho que o Judas são alguns artistas daqui.
NM – Olha que interessante.
VP – É, isso que me deixou puto, por que eu estava saindo com uma gata, que é do circuito de artes e aí os caras começaram a me zoar por que estava indo com ela nas vernissages direto.
NM – Amor bandido.
VP – (risos), não, eu sou o bandido.
NM – Ah é ! (risos)
VP – A questão é que to meio em crise.
NM – Bom, nesse caso, você deve ser alguém independente e autônomo. Admiramos a autonomia.
VP – Sim, eu trabalho duro, mas, moro com minha avó.
NM – Hum, parece ser algo muito típico. Não são poucos os que mandam a polícia se foder e em seguida ligam pra casa pra mãe ou o pai pagar a fiança.
VP – Mas, eu não sou desse tipo, sou um cara consciente. Só me apaixonei pela mulher errada.
NM – Ok, boa sorte, e valeu pela conversa.