quarta-feira, 3 de agosto de 2011

IMAGENS E ALFABETIZAÇÃO DO OLHAR



Escrevi esse texto por conta de uma pesquisa para uma oficina que vou ministrar na Associação Fotoativa, achei tão legal o resultado que me atrevo a colocá-lo a disposição do olhar e do pensamento de vocês, ele não está devidamente corrigido, nem revisado, mas, ainda assim, compartilho com vcs meu apreço por Flusser.


Para Vilém Flusser (1920-1991), filósofo tcheco/brasileiro, há superfícies que são sensibilizadas por informações (imagens), cada uma guardando suas especificidades técnicas, funcionais e contextuais, mas, se encontrando em um campo comum: a imagem. Para ele, há imagens pré-históricas, históricas e pós-históricas. Nas imagens pré-históricas não havia uma história a ser contada, não havia uma linearidade, haviam orientações e as imagens nas grutas eram uma revelação. A linearidade começa a tomar corpo nas imagens históricas a partir do surgimento da escrita, que compõe um cenário cartesiano no renascimento. E há um problema nisso quando encaixotamos as imagens atuais somente nesse modelo de pensamento (Cartesiano), porque as imagens atuais são pós-históricas, são recombináveis, multiplicáveis e contém diálogos e discursos que visam certos programas estabelecidos no seu infrafino, estabelecem diálogo tanto com o passado quanto com o presente e o futuro, são em outras palavras: complexas. E nesse encaixotamento, vamos perdendo a capacidade de criticá-las e talvez retornemos a um estágio de idolatria das imagens “Flusser nos alerta sobre o perigo que essa inversão de valores pode causar, se a razão está a serviço de uma projeção imaginária que representa o fim da história, vemos isso tomar forma através da publicidade e o consumo desenfreado” (BERNARDO, Gustavo, 2010).

Então o problema que se coloca é o seguinte: se temos imagens entendidas como pós – históricas, em que modelo de recepção estamos filtrando essas imagens? Em que modelo mental ou perceptivo estamos atrelados? Se estivermos atrelados a um modelo histórico (de leitura linear) e de valoração somente, estaremos incorrendo sério risco de interpretá-las somente a partir de padrões cartesianos (começo, meio e fim, objeto desvinculado do sujeito, hierarquia, monopólio da visão, etc). O problema que se coloca então, sob outro prisma é que, refletir sobre a imagem à nossa frente torna-se uma urgência: olhar para elas e não apenas vê-las, Márcia Tiburi dizia que “Aprender a pensar é descobrir o olhar” (TIBURI, 2005), esteja a imagem na TV, no computador, nos cartazes, na pintura ou na fotografia, independente da superfície em que ela se encontre, é necessário que possamos fazer uma apreensão crítica, para assim assimilá-las não somente a partir dos significados anteriores de imagem, mas, também tendo em vista o que as programou. “Os novos meios, da maneira como funcionam hoje, transformam as imagens em verdadeiros modelos de comportamento e fazem dos homens meros objetos. Mas, os meios podem funcionar de maneira diferente, a fim de transformar as imagens em portadoras e os homens em designers de significados.” (FLUSSER, 1989).

Na atualidade fica patente a falta de um engajamento no estudo do infrafino da imagem e seus alicerces visuais (elementos básicos visuais que as compõe) para formar imagens, no sentido de fabricar e receber imagens. Elementos visuais: ponto, linha, cor, textura compõe juntos um campo de sentidos que informa superfícies e informa quem as olha. Nesse caso, fica claro, a necessidade de uma alfabetização do olhar e da cultura que subjaz o olhar. Flusser falava de uma nova Idade Média, no sentido de termos hoje imagens e não sabermos processá-las enquanto informação (os marqueteiros, designers e publicitários agradecem), nesse processo de idolatria das imagens (ver Tumblr, Facebook, etc.) , temos de escapar a uma manipulação e um enregelamento do olhar, criar o hábito de olhar imagens buscando o programa subjacente a elas, refletir sobre elas e sobre o aparelho ou técnica que as confeccionou, levando em conta seu potencial político e epistemológico.


Ricardo Macêdo, 03.08.2011



Referências

FLUSSER,Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação: Vilém Flusser; organizado por Rafael Cardoso, Tradução: Raquel Abi-Sâmara, São Paulo: Cosac Naify, 2007.

Bernardo, Gustavo;Finger, Anke; Guldin, Rainer
Flusser,Vilém. Uma introdução. / Gustavo Bernardo, Anke Finger e Rainer Guldin. – São Paulo: Annablume, 2008.

Dondis, Donis A. Sintaxe da linguagem visual / Donis A. Dondis; tradução: Jeferson Luiz Camargo. – 2ª edição.- São Paulo, Martins Fontes, 1997. – (Coleção a)


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