sexta-feira, 29 de abril de 2011

Os graffitis da "Madá"

Aos olhos atentos há sempre algo novo a ser descoberto na cidade de São Paulo, e não me refiro somente a museus e galerias, mas digo em relação as suas ruas, sua miscigenação e suas paisagens. Um dos locais mais interessantes desta Paulicéia Desvairada é bairro da Vila Madalena.

Situado no último ponto da linha verde do metrô, o local já chama atenção pelos nomes de suas ruas: Harmonia, Girassol, Original e Fidalga. Reduto de boêmios devido sua proximidade com a Universidade de São Paulo- USP, algumas destas ruas foram escolhas anárquicas para contrapor aos tradicionais tributos a figuras históricas que comumente batizam nomes de ruas e avenidas. Contudo, algumas delas não escaparam deste padrão, o que é o caso da Fradique Coutinho e da Mourato Coelho, duas das principais vias da região e que homenageiam ilustres bandeirantes.

A “Vila Madá”, para os íntimos, é recoberta de verdadeiras galerias a céu aberto, onde seus muros se destacam pela riqueza de imagens em graffiti que embelezam a região. Nas paredes que compreendem um beco perto das esquinas das Ruas Harmonia e Luís Murat, conheci um lugar de graça peculiar em concreto: uma verdadeira galeria grafitada de conceitos artísticos e pensamentos irreprimíveis.

Para os que já conhecem e passam por ali todos os dias pode ser visto como apenas um lugar repleto de graffitis, mas para os olhos novatos o encantamento é imediato. O “chamamento” provocado pela profusão de cores e formas retratadas das mais variadas maneiras levam à contemplação e à curiosidade. Estar em contato com imagens de belezas e de controvérsias provocam multi- interpretações sobre os temas assim expostos nos muros.

As ações do tempo delimitam a instabilidade e o desvanecer dos desenhos, que entre fugazes pinceladas podem ser substituídos por outros pensamentos grafitados, ou até mesmos por paredes brancas. O que estava deixou de estar, mas por debaixo das camadas de tinta eles se escondem inconscientemente alojados em uma memória sublimada, por ora lembrada por mentes frequentemente circulantes daquele espaço e por seus pensantes criadores. Suas confusões de formas geram um ritmo frenético que mais parecem projeções sonoras de sonhos inconstantes.

As paredes são amplitudes de mentes criativas que se exprimem como lapsos de memória individuais e coletivas que desejam se revelar para o mundo, chamando sua atenção. Os discursos vêm por meio de metáforas imagéticas que se metamorfoseiam em outras imagens retratadas em lentes de câmeras fotográficas e de vídeos, e que se propagam velozmente em outros suportes artísticos, em papel e na internet, podendo sofrer outras inúmeras alterações em mãos de diferentes pessoas, indo desde o tratamento no Photoshop até a inclusão de outras pinturas e colagens e recortes.

A experimentação do pintar em espaços públicos promove práticas de vivência para seus espectadores, indo além do que se vê e em direção do sentir. Para alguns as imagens são meros rabiscos de pichadores ditos artistas, mas suas ações hoje já são consideradas obras de arte urbana. No meio destas controversas posições, há lugar para a democratização. E no conjunto deste meio, retratei algumas imagens abaixo exibidas durante um período de flanação. Contemplem!




2 comentários:

Anônimo disse...

Blz, estou em Sampa e a indicação foi perfeita. Realmente, escapa aquilo que estamos acostumados, parabéns pela matéira.

R. Frank

Bruno Cantuária disse...

Fabíola, bem vinda e bela matéria. Tudo em ordem por aí onde bate sol e tem vento frio?