quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Identidades Móveis no Banco da Amazônia


No lugar do outro
“...Só é interessante o pensamento enquanto potência de alteridade”
Eduardo Viveiros de Castro

O projeto Identidades Móveis, de Bruno Cantuária e Ricardo Macêdo irá discutir a questão do sujeito por meio da performance. Tomando como ponto de partida a fragmentação do sujeito contemporâneo - imerso nas mídias sociais e nos diversos papéis que este assume ao longo de sua existência -, a dupla de artistas elaborou uma proposição em que se dispõe a mergulhar na vida do outro, viver como este outro, mesmo que por um curto espaço de tempo, apreendê-lo, sorvê-lo no que for possível.
Mais do que uma mera reprodução das atividades cotidianas dos sujeitos pesquisados, Cantuária e Macêdo constituem um projeto em que viver o dia-a-dia do outro é um processo de entender esse sujeito como deflagrador de experiências únicas. Daí, a dupla elencar, dentro de um circulo de interação, com maior ou menor convivência, o indivíduo a ser tomado, apreendido, vivido.
Os procedimentos performativos de Cantuária e Macêdo são direcionados à imagem. Quando um deles está vivendo alguma outra existência, é o parceiro quem irá capturar, em fotografias e vídeo, o transcurso do tempo, as múltiplas ações diárias desenvolvidas. Na maior parte desse período, aquele que está performando está tão absorto na atividade que nem percebe a captura. Em outros momentos, a fotografia se apresenta como documento, retrato do cotidiano do indivíduo. Mesmo aí, Cantuária e Macêdo não estão interpretando os sujeitos, eles são os sujeitos, imersos no modo de vida, comportamentos corporais, objetos, vestuário, atos vividos na ação de ser o outro. Não é uma mimesis para a imagem, mas uma absorção de um conjunto de saberes que os põe no lugar do outro e é registrada na forma de imagem. Fixa e em movimento, é o resquício da experiência, mas também sua existência. Não são performances orientadas para fotografia e vídeo, mas performances enquanto imagem.
A dupla se propõe a apreender e captar o outro, sabendo que não serão os mesmos depois dessa experiência, porque não estão vivendo “personagens”, mas algo distinto de si mesmos. E, na possibilidade da diferença é que o trabalho se estabelece, no mergulho naquilo que é estranho, diverso, porém não distante. Nesse espaço vago, instável, arriscado no qual os artistas se colocam na posição do outro é que está a potência desta proposição, no deglutir o outro, olhar para a alteridade e encontrar um território possível.

Orlando Maneschy
Curador

Visitação 09 de Novembro a 14 de Dezembro, das 10h às 17h.
Entrada FRANCA. 

Espaço Cultural Banco da Amazônia
Av. Presidente Vargas, n° 800, térreo.
CEP: 66017-000 - Belém/PA.
Tel: (91) 4008-3670

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô..a foto ficou blz!