terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sachiyo Nishimura

Sachiyo Nishimura

Como é sério pensarmos que sempre o que vemos é representação. Quando algo sugere uma relação de reconhecimento, o conforto visual é imediato. No entanto, quando a simplicidade do objeto fotografado é a protagonista da criação, passamos a questionar o que  pode vir a impressionar. Há trabalhos nos quais a apresentação final discorre com mais contundência do que o próprio registro fotográfico. Bom, mas por que nos inquietamos com fios e mais fios que convergem no ensaio da fotógrafa chilena Sachiyo Nishimura?
Se a fotografia não é apenas o fim, mas o meio para decompor-se e criar novas paisagens, cabe à percepção deixar emaranhar-se na profusão dos “mosaicos” deste motivo fotográfico tão inanimado. Observar as soluções que determinada obra dispõe para transmitir sua póetica e fruição, é mais um esboço do exercício de compreensão diante da imagem.
O húngaro Lászlo Moholy Nagy (1895-1946) costumava fazer de sua criação um campo minado de insinuações e montagens. Percebia que a vida representada poderia fazer parábolas mais instigantes do que a provável condição de realismo. De outra maneira, mas nesse mesmo eixo de intenção, Nishimura aborda a paisagem com fotomontagens e formalmente na montagem expositiva da imagem. Com prolongamentos, junções, detalhes e ampliações quase matemáticas, o espaço reinventado surpreende pela escala e domesticação da composição. Descontrói para desconstruir ainda mais.
Para Sachiyo Nishimura, seu ensaio explicita “paisajes que, a pesar de ocupar grandes extensiones espaciales, se han vuelto casi imperceptibles en el contexto cotidiano, reconocibles pero no identificables, ocupando un lugar insignificante en la memoria. Como artista, intento reactivar la apariencia pasiva de estos paisajes por medio del fotomontaje, re-presentándolos con una identidad más retenible, más recordable”.
O requinte dessas visões passa a ser a emboscada para o tal reconhecimento da realidade do nosso entorno. Ao simular novas perspectivas espaciais, o trabalho vai além dos conceitos sobre a urbes inerentes às imagens. Inevitável não pensarmos em como os sentidos da fotografia podem burlar a própria técnica da câmera e encontrar na expansão física dessa imagem como propulsora de uma outra técnica: a da ilusão plástica. Nisso, o experimento pós tomada, é também o que torna a fotografia tão sedutora e imbricada. Que venham os fios e seus horizontes. Eles nos levam a algum lugar, de alguma maneira.

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