segunda-feira, 26 de julho de 2010

Contra o medo da violência, a arte - no Diário do Pará

Saiu uma matéria no jornal Diário do Pará sobre um trabalho que eu já tinha apresentado aqui no blog algumas vezes, então disponibilizei ela aqui para os interessados.
Clique nas imagens para ampliar.

A matéria

“Espaço de não-violência”. Você já deve ter lido estas palavras por aí, grafadas em um pedacinho de papel. O pequeno adesivo, que em muito se assemelha às habituais placas de sinalização, com seus bonequinhos estilizados e suas proibitivas tarjas vermelhas, vem ganhando paredes, postes e bancos das praças da cidade pelas mãos dos artistas visuais Bruno Cantuária, Luciana Magno e Ricardo Macedo. Nem os carrinhos de ambulantes escaparam. “As pessoas têm um sentimento excessivo de insegurança e queremos transmitir a ideia de poder criar áreas livres do medo, da violência – seja verbal, psicológica, moral, física ou familiar. Livres de qualquer tipo de agressão”, diz Bruno.

A ideia surgiu ao final do ano passado, quando os três artistas idealizaram o adesivo e passaram a distribuí-lo pelas ruas da cidade. Escolhidas de maneira aleatória, as paredes recebiam a figura para então serem fotografadas.

As imagens ganharam o ambiente virtual por meio do blog de Bruno, que postou uma sequência de registros da ação seguidos da sugestão: “Copie e reproduza, leve para casa, para a escola, para o trabalho. Leve sempre com você!”. Em resposta, o pequeno adesivo vem se multiplicando em várias páginas na internet.

“A ideia é que qualquer pessoa possa copiá-los e reproduzi- los à vontade, desde que não seja para fins lucrativos. Está lá, disponível, para quem quiser fazer circular essa iniciativa”, diz Bruno, que no último mês ficou surpreso com a dimensão do projeto, quando descobriu que um artista de Belo Horizonte, em Minas Gerais, copiou a figura do seu blog e começou a espalhar pela cidade.

ARTE URBANA
Segundo Cantuária, em Belém, sobra criatividade, mas ainda falta incentivo para que boas ideias relativas à arte de rua ganhem corpo. “A galera que curte arte urbana - tanto a gente quanto o pessoal do grafite, do stêncil - ainda esbarra na questão financeira, tem que suar a camisa pra poder levar adiante. Algumas pessoas falam ‘ah, mas é só um adesivinho’. Não é só um adesivo, mas vários, tudo isso tem um custo”, diz. “Apesar de ter consciência de que o trabalho está na rua, suscetível à ação do tempo, da chuva e das pessoas que transitam por ali, é chato voltar ao local e ver que foram arrancados. Mas arte urbana é isso mesmo”.

Quem torce o nariz para a profusão de outdoors e cartazes que tomam conta da cidade, pode não ver com bons olhos a iniciativa do trio de artistas. E a questão da poluição visual? Para o artista e pesquisador Orlando Maneschy, a ação com os adesivos está bem longe desse conceito. “Não é um cartaz de propaganda, um santinho de candidato, mas uma quebra do olhar comum sobre a cidade. A intervenção urbana é uma iniciativa válida justamente pelo seu caráter subversivo”, diz.

Para Maneschy, acompanhando uma tendência global, Belém também assiste ao surgimento de grupos de artistas que optaram pelas ruas como espaço expositivo. “Já há algum tempo os artistas começaram a realizar proposições em que a arte ganha a rua, abdicando dos espaços tradicionais como os museus e galerias. Isso é resultado do estudo e do contato com novas linguagens”, diz, destacando neste cenário, além de Bruno, Luciana e Ricardo, nomes como Carla Evanovich, Murilo Rodrigues e Armando Queiroz. “Todos eles vêm desenvolvendo trabalhos substanciais dentro dessa perspectiva”, avalia. (Diário do Pará)
Amanda Aguiar.

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